O Brasil deu um passo inédito ao anunciar, no fim de 2024, o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 18, voltado à igualdade étnico-racial. A nova meta, reconhecida pela ONU, impõe um desafio direto ao setor produtivo: combater o racismo de forma ativa e incorporar a diversidade como prática, não como retórica.

Embora o foco inicial da iniciativa esteja no setor público e educacional, os princípios do ODS 18 servem como guia para empresas que desejam implementar políticas efetivas de inclusão racial, enfrentar desigualdades e atuar na transformação social.

Segundo Raimunda Caldas, coordenadora da Qualidade Social da Educação do Marista Brasil, “o enfrentamento ao racismo é responsabilidade de todos: Estado, empresas e cidadãos”.

Reconhecer o racismo estrutural

Assim como escolas estão sendo orientadas a trabalhar a história dos povos indígenas e afro-brasileiros de forma crítica, as empresas também precisam entender que o racismo não é um problema individual, mas estrutural. Ele está presente nas decisões de contratação, nos modelos de liderança e na forma como o desempenho é avaliado.

Por isso, adotar uma política antirracista passa por rever processos seletivos, criar comitês de diversidade com poder decisório e mapear desigualdades salariais por raça e gênero.

Valorizar a pluralidade

A cultura brasileira é formada por múltiplas influências — indígenas, africanas, europeias, asiáticas. Essa pluralidade está presente nas equipes de trabalho, nos clientes e nos fornecedores. Organizações que investem em educação corporativa com foco na diversidade étnico-racial promovem ambientes mais criativos, seguros e produtivos.

Além disso, visitas a centros culturais, incentivo à leitura de autores negros e indígenas e ações afirmativas em datas como 20 de novembro ajudam a construir consciência coletiva e empatia.

Reconhecer a dívida histórica

O pedido oficial de desculpas pela escravidão feito pelo Estado brasileiro em 2024 foi um marco simbólico. No entanto, no mundo corporativo, ainda há resistência em reconhecer as heranças da desigualdade racial nos próprios quadros.

Diante disso, medidas como programas de trainee exclusivos, cotas em cargos de liderança e investimentos em aceleração de carreira para profissionais negros ganham relevância. Não basta dizer que a empresa é antirracista – é preciso demonstrar isso com dados, metas e orçamento.

Representatividade nos conteúdos

Nas escolas, uma das estratégias adotadas é revisar o currículo, incentivando alunos a refletirem sobre quem são os protagonistas das histórias contadas. As empresas podem adotar lógica semelhante ao revisar suas campanhas de marketing, treinamentos, comunicações internas e materiais institucionais.

É preciso perguntar: quem está representado? Quais vozes estão sendo ouvidas? Os materiais reforçam estereótipos ou ampliam visões de mundo? Essas reflexões são essenciais.

Iniciativas como clubes de leitura com autores negros e indígenas, rodas de conversa e formações continuadas ampliam a capacidade de escuta e reposicionam a cultura organizacional.

Formação de lideranças conscientes

A educação antirracista não se limita à escola – ela deve atravessar também os ambientes de trabalho. Uma pesquisa do pesquisa Ipec em 2023 revelou que o racismo ainda é muito presente no ambiente escolar. Esse dado reforça a urgência de construir pontes entre empresas e instituições de ensino, em programas de formação, mentoria e empregabilidade voltados a jovens negros e indígenas.

Para isso, a legislação já oferece base. Leis como a 10.639/2003 e a 11.645/2008, que tornaram obrigatórios os conteúdos sobre culturas afro-brasileiras e indígenas, servem de referência para a construção de políticas internas mais justas e conscientes.

O que as empresas podem fazer a partir de agora

  1. Assumir compromisso com a equidade racial nos conselhos e lideranças
  2. Criar programas contínuos de formação sobre relações étnico-raciais
  3. Apoiar causas e organizações lideradas por negros, indígenas e quilombolas
  4. Mapear e corrigir desigualdades internas com base em dados e indicadores claros
  5. Integrar o ODS 18 às metas ESG e aos relatórios de sustentabilidade

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Last Update: 04/06/2025