A ex-presidenta argentina Cristina Kirchner anunciou sua intenção de disputar uma cadeira de deputada provincial de Buenos Aires. A confirmação veio durante uma entrevista ao canal C5N, realizada na última segunda-feira 2, e deve marcar retorno estratégico ao cenário político em um momento crucial da trajetória judicial da peronista.

Cristina escolheu a 3ª Seção Eleitoral de Buenos Aires, território conhecido pela força histórica do peronismo. Essa divisão administrativa abrange 19 municípios da área metropolitana e concentra quase 5 milhões de eleitores, representando um dos principais colégios eleitorais do país.

A região, apelidada de “Tercera” nos círculos políticos, tem características que favorecem candidatos peronistas. Em diversos distritos locais, representantes desse movimento político frequentemente alcançam mais de 70% dos votos, enquanto a oposição raramente ultrapassa 15% das preferências eleitorais. 

O kirchnerismo mantém domínio nessa seção desde 2005. O sucesso peronista é ainda mais amplo: desde 1987 a corrente política registrou menos de 1 milhão de votos na região em apenas três ocasiões específicas – 1991, 2001 e 2003.

A divisão do calendário eleitoral

O processo eleitoral na Argentina neste ano terá formato inédito, com votações em datas distintas. Em 7 de setembro, os eleitores definirão os representantes provinciais. Posteriormente, em 26 de outubro, ocorrerá a escolha para cargos nacionais, incluindo 35 deputados federais.

Essa divisão temporal foi estabelecida pelo governador Axel Kicillof, também peronista e ex-ministro durante a gestão Kirchner. 

Embora tradicionalmente considerado aliado político da ex-presidente, Kicillof atravessa atualmente um período de tensões internas pela liderança do espaço político peronista, fragmentado depois da dura derrota do ex-ministro da Economia, Sergio Massa, para o atual presidente Javier Milei.

Kirchner e a Justiça

A candidatura da ex-presidenta ocorre enquanto ela aguarda o pronunciamento da Suprema Corte de Justiça argentina sobre sua condenação a seis anos de prisão por suposto envolvimento em esquemas de corrupção relacionados a obras públicas.

Cristina nega que tenha participação nos casos e diz ser alvo de “lawfare” – como se conceitua a utilização do sistema judicial para perseguição política.

Um cargo de deputada proporcionaria imunidade parlamentar, oferecendo proteção legal durante o desenrolar dos processos judiciais. 

Milei reage

O presidente Javier Milei manifestou-se sobre a decisão através das redes sociais, compartilhando comentários que ironizam a opção de Kirchner por um cargo provincial em vez de nacional. Milei sugeriu que seu partido, ‘La Libertad Avanza’, representará o fim do kirchnerismo nas próximas eleições.

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Last Update: 04/06/2025