
O comediante Léo Lins foi condenado a 8 anos e 3 meses de prisão por piadas preconceituosas contra minorias. A decisão tem como base um show de stand up comedy realizado por ele em junho de 2022 em Curitiba (PR), intitulado “Perturbador”.
A apresentação, que foi publicada no canal do YouTube do comediante e já contava com milhões de visualizações, foi retirada do ar em 2023, mas alguns ataques de Lins foram citados na decisão da juíza Barba de Lima Iseppi, da 3ª Vara Criminal Federal de São Paulo.
Entre as piadas, há ataques a nordestinos, dizendo que eles não são “100% humanos”; ataques a idosos, zombando do que chama de “velhofobia”; ironias sobre “gordofobia”, com falas em que diz ter medo de pessoas obesas; além de piadas sobre pacientes com HIV, homossexuais, negros, judeus, anões, indígenas e até testemunhas de Jeová.
Durante a apresentação, ele ainda brinca que não tem medo de ser processado ou condenado pelas piadas. Além da pena de prisão, o comediante terá que pagar uma multa equivalente a 1.170 salários mínimos (cerca de R$ 1,7 milhões) e uma indenização de R$ 303,6 mil por danos morais coletivos.
Veja algumas piadas citadas pela juíza na decisão:
“Você pegar voo pro Nordeste é uma experiência, porque tem umas pessoas com aparência primitiva. Esse cara saiu de um livro de geografia, que negócio é esse? Ele anda meio de lado assim. A terceira dimensão não chegou na terra dele, ele anda em 2D Para embarcar tem que virar o corpo. Começou o embarque. É um caranguejo? Que negócio é esse, cara? A roupa também eles usam diferente. A calça eles usam lá em cima. E quanto mais sobe a calça mais desce o pescoço. O cinto vira uma coleira (…) Tem ser humano que não é 100% humano! O nordestino do avião? 72%”.
“Eu tô fazendo várias piadas de velho agora e vocês tão rindo tranquilamente, sem pensar se é certo ou errado, sem medo de julgamento. Por quê? Porque hoje ninguém defende o velho. Já ouviu falar na militância da velhofobia? Se o velho falar: ‘Ai, eu não gostei dessa piada’. Ah, é mesmo? Foda-se!! Cê já tá quase morrendo, reclama direto com Deus! Ninguém defende o velho. A não ser que seja um velho gordo! Ou velho gordo e gay. Ihhh…. O velho gordo, gay e negro! Iiiiihhhh…. Se for cadeirante também eu já me entrego. Pode levar, doutor, pode levar’ (nesse momento, estende os braços para frente, como se os oferecesse para ser algemado). ‘Aí já é racismo, gordofobia’”.
“Tem algumas palavras que hoje a gente tá acostumado mas que quando surgiram eu estranhei muito. E gordofobia foi uma. Eu estranhei muito. Porque fobia é medo. Medo de gordo? Se tem uma coisa que eu não tenho medo é gordo. A não ser que eu fosse feito de Nutella. Eu ia ficar tenso na rua”.
“Sou gordo, adoro comer e não gosto de fazer exercício. Como vou emagrecer? Pegando AIDS! Cê não adora comer de tudo? Sai comendo gay sem camisinha, uma hora dá certo! Essa piada pode parecer um pouco preconceituosa. Porque é”.
“O rico tenta ter filho e não consegue. Vai pro médico, faz inseminação artificial, vai pra África buscar um. Lá tem plantação. Lá você escolhe no pé! Esse tá bem escurinho, vai dar like no insta!’”.
“Tem gente que fala: ‘O negro não consegue arrumar emprego!’. Mas na época da escravidão já nascia empregado e também achava ruim! Aí difícil ajudar!’. ‘Aliás, se o Dia da Consciência Negra é feriado pelos negros, Quarta-Feira de Cinzas devia ser judeu!”.
“Uma vez eu me inscrevi para fazer o Enem e o tema da redação era intolerância religiosa. Como eu sei que religião é um tema delicado, faço questão de deixar claro que eu respeito todas as religiões, menos Testemunhas de Jeová: não merece. Chato pra caralho. Jeová tem dois mil anos, você tem 30. Que testemunha é essa? No máximo tu ouviu falar, é o fofoqueiro de Jeová”.
“Eu acho, de verdade, que o tipo de humor que eu faço é o mais inclusivo de todos. Eu faço piada de tudo e de todos. Quer show mais inclusivo do que esse? Eu já cheguei a contratar intérprete de libras, só pra ofender surdo-mudo. Não adianta fingir que não tá ouvindo não…’”.
“Agora na Síria tem um anão combatendo o Estado islâmico. Um anão, cara? (…) Se tiver algum anão aqui, no final do show a gente estoura: pá! Mais um processo! Pelo menos vai ser pequenas causas”.
“Pra encerrar, quero deixar bem claro que eu sou completamente contra o preconceito. Preconceito, pra mim, é uma coisa primitiva que não devia mais existir. Que nem o índio! Chega, não precisa mais”.