A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revisou nesta terça-feira, 3, suas projeções para o crescimento da economia global, alertando que os efeitos da guerra comercial dos Estados Unidos têm causado impacto maior do que o previsto anteriormente.

Segundo o relatório Perspectiva Econômica, o crescimento global deve desacelerar de 3,3% em 2024 para 2,9% em 2025 e 2026.

A nova estimativa representa uma revisão para baixo em relação às projeções de março, que apontavam crescimento de 3,1% para este ano e de 3,0% para o próximo.

A OCDE destacou que o cenário pode piorar caso haja aumento do protecionismo, o que, segundo a entidade, pressionaria ainda mais a inflação, afetaria cadeias de suprimentos e provocaria instabilidade nos mercados financeiros.

“Aumentos adicionais nas barreiras comerciais ou incerteza prolongada reduzirão ainda mais as perspectivas de crescimento e provavelmente aumentarão a inflação nos países que impõem tarifas”, afirmou o secretário-geral da OCDE, Mathias Cormann, durante a apresentação do relatório.

A entidade estima que, se os Estados Unidos elevarem em 10 pontos percentuais as tarifas bilaterais para todos os países — com base nas alíquotas em vigor em maio —, a atividade econômica global poderá ser cerca de 0,3% menor após dois anos. “A principal prioridade nesse contexto é o diálogo construtivo para garantir uma solução rigorosa para as atuais tensas comerciais”, completou Cormann.

As medidas tarifárias adotadas pelo governo do presidente Donald Trump desde o início de seu mandato foram mencionadas como fatores de instabilidade. De acordo com a OCDE, essas ações provocaram reações negativas nos mercados financeiros e alimentaram incertezas econômicas.

Ainda segundo o relatório, os Estados Unidos e a China chegaram no mês passado a uma trégua temporária, com redução de tarifas, enquanto Washington adiou para 9 de julho a implementação de taxas de 50% sobre produtos da União Europeia.

No cenário doméstico, a OCDE prevê que a economia dos EUA crescerá 1,6% em 2025 e 1,5% em 2026, considerando que as tarifas atualmente em vigor se manterão até o final desse período. Em março, a organização projetava alta de 2,2% para este ano e de 1,6% para o próximo.

O relatório aponta que, embora as tarifas possam incentivar a produção local, os preços mais elevados de importados tendem a reduzir o poder de compra da população, enquanto a incerteza política afeta negativamente os investimentos empresariais.

Além disso, as receitas obtidas com tarifas não compensam integralmente as perdas geradas pela extensão da Lei de Cortes de Impostos e Empregos de 2017, por novos cortes de impostos e pelo crescimento mais lento da economia.

A OCDE também avalia que, com as tarifas pressionando os preços, o Federal Reserve deverá manter a taxa de juros ao longo de 2025, podendo reduzi-la para o intervalo entre 3,25% e 3,5% até o fim de 2026.

Na China, os impactos das tarifas americanas deverão ser parcialmente atenuados por políticas do governo chinês, como subsídios para programas de substituição de bens de consumo — incluindo celulares e eletrodomésticos — e ampliação de transferências de assistência social.

A segunda maior economia do mundo deve crescer 4,7% em 2025 e 4,3% em 2026, levemente abaixo das projeções anteriores de 4,8% e 4,4%, respectivamente.

Para a zona do euro, a OCDE manteve as previsões divulgadas em março: crescimento de 1,0% em 2025 e 1,2% em 2026. A região é sustentada por mercados de trabalho considerados resilientes e pela redução das taxas de juros. Segundo o relatório, o aumento dos gastos públicos por parte da Alemanha deverá ter impacto positivo no crescimento em 2026.

Em relação ao Brasil, a OCDE manteve a projeção de crescimento de 2,1% em 2025. Já para 2026, a estimativa foi elevada de 1,4% para 1,6%.

A organização avaliou que os efeitos da política monetária restritiva e das novas barreiras comerciais serão atenuados parcialmente por uma política fiscal mais expansionista. A inflação deve continuar elevada ao longo do período, mas a expectativa é que retorne à meta estabelecida pelo Banco Central na segunda metade de 2026.

O relatório da OCDE aponta que o cenário internacional continuará marcado por incertezas ligadas a decisões de política comercial, com impactos relevantes sobre produção, inflação e confiança do mercado. A organização recomenda a busca por cooperação multilateral para mitigar os riscos à estabilidade econômica global.

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Last Update: 03/06/2025