O alerta de Lula: o futuro da democracia está em jogo, por Fernando Castilho
No último domingo, durante o congresso nacional do PSB em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um alerta contundente: se a oposição vencer em 2026, “esses caras vão avacalhar” a Suprema Corte.
E sabemos bem quem são “esses caras”, não é mesmo?
A preocupação do presidente não é infundada. Ele enfatizou que a esquerda precisa eleger senadores para evitar que o Senado seja instrumentalizado na pressão sobre o STF e na facilitação de processos de impeachment contra ministros.
Mas Lula tem razão? Vamos analisar o cenário.
A extrema direita tentou um golpe de Estado em 2022. Por pouco – muito pouco mesmo – não voltamos aos anos de chumbo, marcados por prisões arbitrárias, torturas e desaparecimentos.
Com a inelegibilidade e provável prisão do líder da articulação golpista e o fracasso até aqui de algumas tentativas de anistia que o livrasse, a extrema direita se reorganiza.
Agora, a tática é eleger o maior número possível de senadores—os parlamentares que têm o poder de decretar o impeachment de ministros do STF, caso consigam dois terços dos votos necessários.
Se bem-sucedidos, ministros estratégicos como Alexandre de Moraes, Flávio Dino e Cristiano Zanin podem ser removidos, abrindo três vagas no Supremo Tribunal Federal.
Com um presidente de extrema direita em 2026 – seja Tarcísio de Freitas, Michelle Bolsonaro ou outro qualquer – teríamos um STF alinhado à perseguição de progressistas.
E Lula que se cuide.
Mas não para por aí.
Se um desses nomes for eleito, terá o poder de conceder anistia a Bolsonaro, permitindo que ele retorne como ministro de estado e governe de fato.
Desta vez, não cometerão os mesmos erros. O plano é claro: consolidar o poder para garantir que um novo golpe não falhe.
Portanto, o alerta de Lula é legítimo.
O que fazer?
Os índices de desemprego, inflação e crescimento do PIB são excelentes. Os programas sociais então caminhando muito bem. Mas há um problema: o povo precisa saber disso.
Sidônio Pereira assumiu a Secretaria de Comunicação (Secom) há meses com a missão de dar visibilidade às ações positivas do governo, mas a comunicação segue praticamente inexistente—e isso é o calcanhar de Aquiles da administração.
Ainda há tempo para mudar, mas, se não houver uma virada urgente, o Centrão, que já está sendo cooptado por Bolsonaro, aderirá à extrema direita—deixando Lula isolado.
A solução?
Além de um novo espetáculo de crescimento bem propagandeado, Lula precisa tratar bem os 30 milhões de aposentados—inclusive reconhecendo o direito adquirido que está sendo subtraído no STF.
Eles e suas famílias representam votos preciosos que não podem ser desperdiçados. Isso é fácil e barato.
Se Lula conseguir virar essa chave rapidamente, qual parlamentar não gostaria de estar ao lado de um presidente amado pelo povo?
Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, a Sangria Estancada.
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