O artigo Basta de criminalização e perseguição contra o funk e a juventude negra! Liberdade para MC Poze!, publicado no sítio Esquerda Diário neste sábado (31), não toca de fato no problema em questão, e desvia a prisão arbitrária de Poze do Rodo como se fosse mais um caso de racismo. Na verdade, o que vimos é mais um capítulo do cerceamento da liberdade de expressão, direito que praticamente deixou de existir no Brasil.

No segundo parágrafo, o texto diz que “são colocadas acusações [mentirosas] de que Poze propaga ‘narcocultura’, com letras que promoveriam a violência e shows que financiam o domínio de territórios e as guerras de facções. Além da alegação de que o cantor faria apologia e por isso seria responsável por mortes de pessoas inocentes”.

A primeira coisa a ser questionada é o que seria a tal narcocultura. Se é uma cultura, trata-se do produto de uma opinião do artista sobre as coisas. Opinião não é – não deveria ser – crime. Portanto, estamos diante de um caso de censura. O Estado está dizendo que a “liberdade” de expressão deve ter limites, com o que o MRT também concorda.

Um determinado trecho do texto fala “sobre o papel das instituições burguesas e racistas em definir a partir dos seus próprios critérios o limite entre a arte retratando a vida e a apologia nas representações das favelas e da atuação do tráfico e das facções”. A questão é que se um artista quisesse fazer apologia, não importa sobre o que, deveria ter direito de fazê-lo.

Quem apoia o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que investiga, processa e julga a propagação de fake news, está de acordo com a censura.

Segundo, não existe crime de apologia, ou não deveria existir, pois apologia nada mais é que uma opinião. Uma apologia não é responsável por nada. Se uma pessoa gosta de ouvir músicas de Bob Marley, que faz apologia ao uso da maconha, nem por isso fará uso da droga. E mesmo que alguém fizesse uso, o músico não poderia ser responsabilizado, pois o consumo dessa droga é conhecido há séculos.

Fim da polícia

Em vez de pedir o fim da polícia, o texto diz que “não há como confiar que a mesma instituição que levou 6 anos para condenar os assassinos de Marielle e Anderson”. E se tivesse prendido em dois meses, em dois minutos, seria confiável? Não! A polícia é uma instituição do Estado burguês para esmagar a classe trabalhadora; por isso, deve acabar.

O artigo diz, com razão, que “o Estado se utiliza da desculpa da guerra às drogas para matar nas periferias todos os dias”. Ao mesmo tempo, diz que saber que as milícias, o tráfico e suas facções são reacionários. Para que serve esse tipo de comentário? É irrelevante.

Afirmar que “a dinâmica de divisão de territórios entre facções coloca em risco a vida de moradores” serve apenas para sugerir que a criminalidade precisa ser combatida, e é justamente isso que o Estado diz fazer com o uso de sua polícia. É preciso entender a criminalidade como um fenômeno social.

A maior preocupação do artigo é dizer que a prisão foi mais uma atitude supostamente racista do Estado. No entanto, as polícias estão aí para atacar a classe trabalhadora. Não há dúvida que a maioria dos mortos pelas polícias são pessoas negras, mas isso se deve também ao fato de que pessoas negras estão em grande número nas camadas mais pobres e oprimidas da sociedade.

Guera ao tráfico

Para o MRT, é preciso “combater aqueles que de fato financiam o tráfico – e que lucram muito mais com ele – e esses setores nem mesmo pisam nos morros ou lidam com a precarização imposta pela miséria capitalista, mas vivem em condomínios de luxo sendo protegidos pelo Estado”. Ou seja, são a favor do combate ao tráfico, mas da maneira “correta”, pegando as “pessoas certas”.

É uma ideia absurda, a esquerda não tem que se meter com as instituições de repressão do Estado burguês, precisa defender o fim das polícias, o armamento do povo e a instituição de milícias populares.

Culpa no cartório

O que a esquerda pequeno-burguesa não percebe é que ela vem pedindo por repressão. Quem acha que é preciso impedir “discurso de ódio”, tem que concordar que é preciso combater o “discurso criminoso”, a base é a mesma. Em sua ingenuidade, ou falta de senso crítico, a esquerda não percebeu que caiu em uma armadilha.

Quem aplaudiu Alexandre de Moraes censurando o blogueiro Monark, está autorizando que se censure MC Poze e quem quer que seja.

Quando começou a criminalizar opiniões, a burguesia achou ótimo, repete isso como se a ideia tivesse sido dela. Abraçou prontamente a questão, pois é mais uma oportunidade para reprimir.

O mesmo com o racismo, que boa parte da esquerda acha certo que seja crime, que se pegue cinco anos de cadeia por “crime de racismo”. Por que a burguesia aprova leis antirracistas? Porque é outra oportunidade.

No Brasil, por conta da lei contra o racismo, uma lei que supostamente seria usada para o bem, os sionistas estão se aproveitando para tentar esmagar a esquerda ou quem apoie a Palestina em sua luta contra o Estado genocida de “Israel”. Várias pessoas estão sendo investigadas, processadas, e já há casos de condenação, inclusive contra judeus, de serem “antissemitas”.

A polícia, ao prender MC Poze, se inspirou em Alexandre de Moraes, que essa esquerda apoia. Como diz o velho ditado: “Cria corvos e te arrancarão os olhos”.

 

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Last Update: 03/06/2025