Na edição nº 7835, este Diário anunciou o lançamento de um sistema de assinaturas. Explicamos que, a partir de agosto deste ano, os leitores que optarem por assinar o Diário Causa Operária (DCO) terão acesso a uma série de artigos exclusivos, como colunas diária e um suplemento cultural aos domingos. Ao mesmo tempo, ressaltamos a importância da contribuição com o DCO como forma de não só sustentar, mas desenvolver e ampliar nosso trabalho.
Desde então, iniciamos a publicação de textos dos principais revolucionários da história sobre a importância de uma imprensa revolucionária e independente. Em um primeiro artigo, começamos com Por onde começar, de Vladimir Lênin. Agora, disponibilizamos a tradução da carta do principal dirigente da Revolução Russa para a comissão editorial da Gazeta Operária (Rabochaya Gazeta, em russo).
Carta para a comissão editorial
Vladimir Lênin, 1899
Prezados camaradas!
Em resposta ao seu pedido, estou enviando três artigos para o jornal e considero essencial dizer algumas palavras sobre minha colaboração em geral e sobre nossas relações em particular.
De sua comunicação anterior, entendi que vocês queriam fundar uma editora e me dar uma série de panfletos Social-Democratas para editar.
Agora vejo que as coisas são diferentes: vocês montaram seu Conselho Editorial, que está iniciando a publicação de um jornal e me convidam a colaborar.
Nem preciso dizer que aceito prontamente esta proposta, mas devo declarar, ao fazê-lo, que considero a colaboração bem-sucedida possível apenas nos seguintes termos: 1) relações regulares entre os editores e o colaborador, que deverá ser informado das decisões sobre todos os manuscritos (aceitos, rejeitados, alterados) e de todas as publicações de sua sociedade; 2) meus artigos devem ser assinados com um pseudônimo especial (se o que enviei a vocês foi perdido, escolham outro vocês mesmos); 3) acordo entre os editores e o colaborador sobre pontos de vista fundamentais a respeito de questões teóricas, sobre tarefas práticas imediatas e sobre o caráter desejado do jornal (ou série de panfletos).
Espero que os editores concordem com esses termos e, a fim de efetivar o mais rápido possível um acordo entre nós, tratarei brevemente das questões decorrentes da terceira condição.
Fui informado de que vocês acham que “a velha corrente é forte” e que não há necessidade particular de uma polêmica contra o bernsteinismo e seus ecos russos. Considero esta visão excessivamente otimista. A declaração pública de Bernstein de que a maioria dos social-democratas russos concorda com ele; a cisão entre os “jovens” social-democratas russos no exterior e o grupo Emancipação do Trabalho, que é o fundador, o representante e o mais fiel custodiante da “velha corrente”; os vãos esforços da Rabochaya Mysl para dizer algo novo, para se revoltar contra as tarefas políticas “extensas”, para elevar questões menores e trabalho amador às alturas da apoteose, para ironizar vulgarmente as “teorias revolucionárias” (Nº 7, “De Passagem”); por último, a completa desordem na literatura marxista legal e os esforços frenéticos da maioria de seus representantes para se apegar ao bernsteinismo, a “crítica” à la mode — tudo isso, em minha opinião, serve para mostrar claramente que o restabelecimento da “velha corrente” e sua defesa enérgica são uma questão de urgência real.
Vocês verão pelos artigos quais são minhas opiniões sobre as tarefas do jornal e o plano de sua publicação, e gostaria muito de saber a extensão de nossa solidariedade nesta questão (infelizmente os artigos foram escritos um tanto apressadamente: é muito importante para mim saber o prazo de entrega).
Penso que é necessário lançar uma polêmica direta contra a Rabochaya Mysl, mas para este fim gostaria de receber os Nºs 1-2, 6 e os posteriores ao 7; também a Proletarskaya Borba. Preciso deste último panfleto também para analisá-lo no jornal.
Quanto à extensão, vocês escrevem que não devo me impor restrições. Penso que, enquanto houver um jornal, darei preferência a artigos de jornal e tratarei neles até de temas de panfletos, reservando-me o direito de transformar os artigos em panfletos posteriormente. Os temas com os quais proponho lidar no futuro imediato são: 1) o Projeto de Programa (enviarei em breve); 2) questões de tática e organização que serão discutidas no próximo congresso do Partido Operário Social-Democrata Russo; 3) um panfleto sobre regras de conduta para trabalhadores e socialistas em liberdade, na prisão e no exílio — modelado a partir do panfleto polonês (sobre “regras de conduta” — se puderem, gostaria que o obtivessem para mim); 4) greves (I — seu significado, II — leis sobre greves; III — uma revisão de algumas das greves dos últimos anos); 5) o panfleto, A Mulher e a Causa da Classe Trabalhadora, e outros.
Gostaria de saber aproximadamente qual material o Conselho Editorial tem em mãos, a fim de evitar repetições e o tratamento de questões que já foram “esgotadas”.
Aguardo uma resposta do Conselho Editorial pelos mesmos canais. (Além deste caminho, não tive nem tenho qualquer outro meio de me comunicar com seu grupo.)
F.P.