Rafiq al-Tamimi foi um dos mais importantes dirigentes do movimento nacional palestino no período que antecedeu a Nakba de 1948. Professor, historiador e organizador político, Tamimi deixou uma marca profunda na luta de seu povo, especialmente ao defender e colocar em prática a criação de comitês populares para coordenar a resistência armada contra a ocupação sionista. Seu papel se destacou não apenas por seu envolvimento institucional, mas sobretudo por sua compreensão da necessidade de organizar as massas nas cidades e vilarejos da Palestina.
Nascido na cidade de Nablus, no seio de uma influente família de proprietários de terra, era filho de Ragheb al-Tamimi, era uma figura de prestígio local. Desde cedo demonstrou grande capacidade intelectual, o que o levou a estudar em Istambul, onde ingressou na escola preparatória Marjan e depois na faculdade Malakiyya. Por seu desempenho destacado, ganhou uma bolsa de estudos para cursar a Universidade de Sorbonne, em Paris, onde se graduou em literatura e pedagogia.
Foi na capital francesa que Rafiq al-Tamimi deu um passo decisivo em sua trajetória política. Em 1911, junto de Awni Abd al-Hadi e outros militantes árabes, fundou a associação secreta al-Fatat (Sociedade Jovem Árabe), uma das primeiras organizações nacionalistas árabes. O grupo defendia a autonomia dos povos árabes dentro do Império Otomano, igualdade com os turcos e a descentralização administrativa das províncias árabes.
Ao retornar ao Oriente Médio, Tamimi atuou como professor em diversas cidades do Império Otomano, entre elas Tessalônica, Beirute, Esmirna, Damasco e Jerusalém, lecionando história, filosofia e literatura. Em 1916, com a deflagração da Grande Revolta Árabe liderada por Sharif Hussein, uniu-se às tropas de Faisal bin Hussein e participou da tomada de Damasco em 1918. Lá, passou a integrar o governo nacional árabe instituído sob liderança de Faisal.
Foi nomeado conselheiro civil do comissário militar enviado a Beirute pelo governo árabe. Também representou a Palestina no Congresso Geral Sírio, realizado em Damasco em 1919 e 1920, que rejeitou a Declaração Balfour, a imigração sionista e a dominação francesa e britânica. O congresso defendeu a independência total da Síria histórica (que abrangia, além da Síria, os atuais estados do Líbano, Jordânia, Israel e Territórios Palestinos) e a constituição de uma monarquia parlamentar liderada por Faisal.
Com a queda do governo de Faisal após a invasão francesa de Damasco em julho de 1920, Tamimi se exilou na Palestina, onde se reintegrou ao trabalho educacional. Foi diretor da Faculdade Islâmica de Jerusalém e, posteriormente, do colégio al-Amiriyya de Jafa. Ligado ao Partido Árabe Palestino e à liderança do mufti Hajj Amin al-Husseini, tornou-se membro do Comitê Supremo Árabe e chefe de seu escritório em Jerusalém.
Entre 1945 e 1947, Rafiq al-Tamimi teve papel de destaque na organização paramilitar al-Najjada, encarregada da formação militar da juventude árabe palestina. Esta organização foi posteriormente integrada a outras forças, como al-Futuwwa e al-Jawwala, sob a direção da Organização da Juventude Árabe, que funcionava como um centro de preparação de militantes para o enfrentamento aos bandos sionistas.
Foi durante a iminência da guerra que se destacou com sua contribuição mais marcante. Em novembro de 1947, poucos dias antes da aprovação do plano de partilha da Palestina pela ONU, o Comitê Supremo Árabe encarregou Rafiq al-Tamimi de organizar comitês populares de luta em todas as cidades e vilarejos.
Segundo ele, esses comitês seriam “uma versão reduzida do Comitê Supremo Árabe” e “suas responsabilidades dizem respeito às necessidades do povo árabe”. A proposta visava criar uma rede nacional de comitês capazes de assumir tarefas de autodefesa, mobilização e organização da vida das comunidades palestinas diante da escalada do conflito.
No dia 22 de novembro, Tamimi e Shaykh Hassan Abu al-Saud organizaram uma reunião com figuras nacionalistas de Jafa, resultando na criação do primeiro comitê popular local com quinze membros. Poucos dias depois, com o início dos combates entre árabes e sionistas, foi novamente enviado à cidade pelo Comitê Supremo, agora com a missão de supervisionar a defesa local.
Levava consigo instruções por escrito para transferir o controle das operações de segurança a Mohammad Nimr al-Hawwari, ex-dirigente da al-Najjada. No entanto, após abuso de autoridade por parte deste, Tamimi reassumiu o comando, coordenando a formação de uma guarnição militar em conjunto com Hassan Salameh.
Com a derrota árabe e a catástrofe da Nakba, Tamimi foi forçado a se exilar em Damasco. Lá, assumiu a direção do escritório do Comitê Supremo Árabe e lecionou história na Universidade da Síria (mais tarde rebatizada de Universidade de Damasco). Faleceu em 1957, sendo enterrado no cemitério Jabal al-Muhajireen, e doou sua biblioteca pessoal à Biblioteca Zahiriyya, vinculada à Academia Árabe.