Em 2024, 8,7 milhões de jovens de 14 a 29 anos não haviam completado o Ensino Médio por terem abandonado a escola sem concluir essa etapa ou por nunca a terem frequentado. Os dados constam do módulo anual da PNAD Contínua sobre Educação, divulgado nesta sexta-feira 13 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE.
Entre o contingente, 59,1% eram homens e 40,9% eram mulheres; 26,5% eram brancos e 72,5% eram pretos ou pardos. Em 2023, esse contingente era de 9,3 milhões e em 2019, chegava a 11,4 milhões.
No grupo etário, os maiores percentuais de abandono ocorreram a partir dos 16 anos: com 16,5% nessa idade, 19,9% aos 17 anos e 20,7% aos 18 anos. Ainda assim, o abandono escolar precoce continua presente nas idades correspondentes ao ensino fundamental: 6,5% haviam deixado a escola até os 13 anos e 6,8% aos 14 anos.
O abandono precoce até os 13 anos de idade foi mais elevado no Nordeste (7,8%) e no Norte (6,1%), mas o Sul (5,9%) também apresentou percentuais relevantes.
O percentual de abandono antes dos 14 anos (13,3% no total) indica saídas durante o ensino fundamental, etapa que deveria estar universalizada. Mas o grande marco da transição escolar continua sendo a idade de 15 anos, quando o percentual de abandono escolar alcança 12,6%, quase o dobro da taxa aos 14 anos (6,8%).
“Isso pode estar ligado à percepção de utilidade do ensino médio ou, ainda, à necessidade de entrada precoce no mercado de trabalho”, avalia William Kratochwill, analista do IBGE.
Os motivos que afastam os jovens da escola
Em 2024, o principal motivo para os jovens de 14 a 29 anos abandonarem a escola ou nunca a terem frequentado foi a necessidade de trabalhar, mencionado por 42,0% dos entrevistados. O segundo motivo mais citado foi não ter interesse em estudar (25,1%).
Entre os homens de 14 a 29 anos de idade que abandonaram ou nunca frequentaram a escola, o principal motivo declarado foi a necessidade de trabalhar (53,6%). Em seguida, aparecem não ter interesse em estudar (26,9%) e problemas de saúde permanente (4,2%).
Entre as mulheres, o motivo mais citado foi a necessidade de trabalhar (25,1%). Em seguida, vinham a gravidez (23,4%) e a falta de interesse (22,5%). Além disso, 9,0% delas indicaram a realização de afazeres domésticos ou cuidados com outras pessoas. Entre os homens, apenas 0,8% apontaram essa justificativa para o abandono escolar.
Para o analista do IBGE, “esses resultados evidenciam que, além da condição econômica, as responsabilidades reprodutivas e domésticas ainda estão entre os principais entraves para a permanência das mulheres jovens na escola. Para os homens, a atribuição do trabalho remunerado é o fator marcante para o abandono escolar”.
Os jovens nem-nem
Em 2024, entre as 48,0 milhões de pessoas de 15 a 29 anos de idade no país, 18,5% não estavam ocupadas, não estudavam e nem se qualificavam. Em 2023, esse percentual era 19,8% e, em 2019, chegava a 22,4%. Já as proporções de jovens nesse grupo etário que estavam ocupados e não estudavam ou se qualificavam seguiram o rumo oposto: foram de 37,3% em 2019 para 39,4% em 2023, chegando a 39,9% em 2024.
Entre as mulheres, 24,7% não estavam ocupadas, nem estudando ou se qualificando e, entre os homens, esse percentual foi de 12,5%. Com relação à cor ou raça, o percentual de pessoas pretas ou pardas que não estudavam, não se qualificavam e não estavam ocupadas (21,1%) foi consideravelmente superior ao de pessoas brancas na mesma condição (14,4%).
A proporção de pessoas que não estavam ocupadas, nem estudando ou se qualificando varia bastante com a idade: era de apenas 4,0% no grupo de 15 a17 anos, subia para 22,4% no grupo dos 18 a 24 anos e recuava para 21,0% no grupo dos 25 a 29 anos.
País segue abaixo das metas do PNE
Em 2024, 94,5% das crianças de 6 a 14 anos frequentavam o ensino fundamental, que é a etapa escolar idealmente estabelecida para essa faixa etária. Esse leve retrocesso em relação a 2023 (94,6%) é o menor valor da série iniciada em 2016 e permanece abaixo da meta de 95,0% estabelecida pelo Plano Nacional de Educação (PNE).
Já no grupo de 15 a 17 anos de idade, 76,7% frequentavam ou concluíram o ensino médio (etapa adequada para esse grupo etário) em 2024, uma alta de 1,7 p.p. ante 2023. Apesar do avanço, o indicador permanece 8,3 p.p. abaixo da meta de 85% prevista no PNE até 2024.
Em 2024, a taxa de escolarização das pessoas de 18 a 24 anos foi de 31,2%, uma leve alta ante 2023 (30,5%). No entanto, apenas 27,1% desses jovens estavam cursando a etapa adequada para a idade (ensino superior). Os demais 4,1% apresentavam atraso escolar. A proporção de jovens que não frequentavam a escola e não haviam concluído a etapa esperada atingiu 64,6%, enquanto apenas 4,2% não frequentavam por já terem concluído o ensino superior.
Atraso escolar é maior entre pretos e pardos
No grupo dos 18 a 24 anos de idade, 37,6% das pessoas brancas estavam estudando e 37,4% estavam na etapa ideal. Entre as pessoas pretas ou pardas nessa faixa etária, a taxa de escolarização foi de 27,1%, com 20,6% na etapa ideal.
A proporção de jovens pretos ou pardos que não frequentavam e não haviam concluído a etapa ideal foi de 70,0%, enquanto entre os brancos foi de 56,2%, diferença de quase 14 p.p., o que evidencia desequilíbrio nessa categoria. Além disso, 6,2% dos brancos já haviam concluído a graduação, contra apenas 2,9% dos pretos ou pardos.
A meta 12 do PNE prevê elevar a taxa de frequência escolar líquida no ensino superior para 33% até 2024, mas o percentual alcançado pelo país foi 27,1%. O analista do IBGE observa que “a meta 12 foi superada apenas pelas pessoas brancas. Entre pretos ou pardos, os números permanecem muito abaixo do esperado. Os desafios do país envolvem reduzir as desigualdades de acesso ao ensino superior, enfrentar o atraso escolar e garantir a permanência dos jovens na escola”.