Há 80 anos, terminava a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) na Europa, o maior conflito militar da História, marcado pela ascensão e derrota do nazismo no continente. O “teatro de operações” da guerra envolveu praticamente todo o globo, com combates no Extremo Oriente asiático e no Oceano Pacífico, passando pelo Norte da África, seguindo por batalhas navais realizadas nas costas das Américas e no Rio da Prata.

Segundo as estimativas do historiador Eric Hobsbawm, a guerra provocou 50 milhões de mortes. Na Ásia e Oceania, entretanto, os combates só terminariam em novembro, quando o Japão se rendeu, após os Estados Unidos lançarem bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki.

A força motriz que deflagrou a Segunda Guerra foi a rivalidade interimperialista na disputa por novos investimentos, mercados e fontes de matérias-primas baratas, questões que não haviam sido resolvidas pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918), quando França, Inglaterra e Rússia se enfrentaram contra Alemanha, Áustria-Hungria e Império Otomano, para “decidir” quem teria o direito de espoliar as outras nações do mundo.

Na época, a derrota da Alemanha jogou o país numa profunda crise econômica e social, agravada pelos tratados de paz de Versalhes (assinados em 28 de junho de 1919). A Inglaterra, detentora da hegemonia imperialista durante o século 19, estava em franca decadência, enquanto os Estados Unidos se encontravam em plena ascensão. Mas a crise econômica de 1929 adicionou mais contradições às disputas entre as nações imperialistas e, também, incendiou a luta de classes.

Derrota das revoluções abriu caminho para a guerra

Na França, a classe operária ocupou as fábricas após o Partido Socialista chegar ao poder, com a Frente Popular, em maio de 1936. Na Espanha, eclodiu uma Guerra Civil, quando o general e, posteriormente, ditador, Francisco Franco, deu um golpe de Estado, em julho de 1936, contra a Segunda República.

O objetivo era derrotar uma classe operária fortalecida por sua ação revolucionária e que resistiu por anos contra o ditador Franco. Ambos os episódios, porém, foram derrotados, não sem a traição dos partidos comunistas, dirigidos pelo stalinismo, que, naquele momento, desejava se mostrar confiável aos governos da Europa.

Na Alemanha, os nazistas chegaram ao poder em 1933, com a colaboração da direita conservadora, que temia uma revolução operária. Sob as ordens de Stalin, o Partido Comunista se recusou a realizar uma Frente Única com a social-democracia para combater o nazismo, abrindo o caminho para Hitler. Uma vez no poder, os nazistas perseguiram implacavelmente os comunistas, que abarrotaram as prisões alemãs, e também se voltaram contra judeus, ciganos e a população LGBTI+.

A guerra pode ser vista como parte da onda contrarrevolucionária que se abateu sobre o movimento operário nos anos 1930 e que provocou sua desmoralização e paralisia, frente ao avanço da barbárie imperialista.

Imperialismo em conflito

Hitler, representante das classes dominantes alemãs, liderou um projeto deliberado não apenas para recuperar o poder perdido pelo imperialismo alemão na Primeira Guerra, mas também para expandir agressivamente sua hegemonia. A burguesia alemã, conscientemente, preparou o caminho para a guerra, arrastando consigo a Itália fascista de Mussolini e o Japão imperial, formando, assim, o “Eixo”, uma aliança que refletia uma estratégia calculada de dominação, unindo potências com interesses expansionistas comuns.

Até 1938, Inglaterra e França toleraram a expansão nazista na Renânia, Áustria e Tchecoslováquia. Porém, quando Hitler ameaçou diretamente o Império Britânico, Londres decidiu intervir. Após a invasão da Polônia, em setembro de 1939, os britânicos declararam guerra à Alemanha, defendendo sua influência no Leste Europeu. A França, relutante, seguiu o mesmo caminho, mas foi rapidamente derrotada e ocupada pelas tropas alemãs, em junho de 1940.

O imperialismo norte-americano era o principal rival da Alemanha, detendo enorme capital, capacidade produtiva e mão de obra. Seu expansionismo econômico exigia mercados internacionais para investimentos e exportações. O ataque ao porto de Pearl Harbor (em dezembro de 1941) levou os EUA a entrarem na guerra contra Japão e Alemanha, unindo-se à então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e ao Reino Unido, nas “Forças Aliadas”.

Cartaz de propaganda anticomunista e antissemita na Alemanha nazista

Guerra e contrarrevolução

A invasão e a derrota de Hitler na URSS

Em 1931, Leon Trotsky fez uma previsão precisa: “Se Hitler assumir o poder na Alemanha, lançará uma guerra contrarrevolucionária contra a União Soviética”. Sua análise antecipou o expansionismo nazista, que culminou na invasão da URSS em 1941, na chamada “Operação Barbarossa”.

Apesar de obter uma vitória rápida na Europa Ocidental, até fins de 1940, isolando a Inglaterra, Hitler sabia que o tempo corria contra ele e os nazistas perderiam sua vantagem militar se a guerra se tornasse prolongada.

Se quisesse realmente impor a hegemonia do imperialismo alemão, o Reich precisava capturar uma importante reserva de matérias-primas, para mover a máquina de guerra. Por isso, os nazistas não demorariam em invadir a URSS e capturar seus recursos. Seria preciso escravizar a população eslava e esmagar as conquistas da Revolução Russa. A guerra contra a URSS era inevitável: o imperialismo alemão não toleraria um Estado operário em suas fronteiras.

Stalin, porém, acreditava que a URSS poderia evitar o conflito através de concessões — daí a assinatura do Pacto Ribbentrop-Molotov, em 1939, além de desmoralizar o movimento comunista internacional, deu a Hitler o tempo necessário para preparar sua invasão.

A invasão da URSS ampliou a guerra e transformou seu caráter social. De conflito entre imperialistas, passou a uma contrarrevolução: a pilhagem nazista visava destruir a propriedade coletiva soviética, conquistada em outubro de 1917.

Vitória soviética, apesar dos crimes de Stalin

Os primeiros quatro meses da invasão tiveram consequências terríveis. Calcula-se que, nesse período, os nazistas exterminaram ou capturaram cerca de 3 milhões de soviéticos. O alto custo dos massacres foi resultado da política de Stalin, antes da invasão.

Em 1937, os expurgos no Exército Vermelho eliminaram 90% dos generais e 80% dos coronéis, enfraquecendo sua defesa. Até o Marechal Tukhachevsky, brilhante estrategista e especialista em táticas alemãs, foi fuzilado. Isso fez os EUA e a Inglaterra preverem uma rápida derrota soviética.

Apesar da defesa desorganizada e dos crimes de Stalin, a enorme resistência do povo soviético teve um grande impacto no avanço da Alemanha. A chegada do rigoroso inverno russo também liquidou milhares dos despreparados soldados alemães. Mas, a recuperação soviética veio da economia: mesmo devastada, a URSS superou a Alemanha em produção bélica: 100 mil blindados, 112 mil aviões e 1,5 milhão de metralhadoras foram produzidos entre 1941 e 1945. O feito comprovou a eficácia da economia planificada na mobilização de recursos para a guerra.

O ponto de virada foi a resistência em Stalingrado (1942-43), que esgotou as reservas alemãs. A heroica vitória soviética, consolidada, depois, na batalha de Kursk, em agosto de 1943, marcou o início da contraofensiva, que só terminou com a queda de Berlim, em maio de 1945.

É importante lembrar que, segundo o historiador estadunidense David Glantz, a URSS enfrentou e derrotou, sozinha, 4/5 do total de tropas alemãs em combate, entre 80 a 85% das divisões nazistas, enquanto o restante dos Aliados destruiu entre 15 a 20% das divisões de Hitler.

Não por acaso, a URSS emergiu da guerra com enorme prestígio global: as massas a viam como a grande vencedora do nazifascismo, cuja derrocada abriu uma onda revolucionária que varreu a Europa. Stalin, porém, mais uma vez trairia essas revoluções, subordinando-as aos interesses da burocracia soviética e dos países imperialistas vitoriosos.

A traição de Stalin

Derrota do nazifascismo faz eclodir onda revolucionária

Churchill (Inglaterra), Roosevelt (EUA) e Stalin (URSS) na Conferência de Yalta e Potsdam

Após Stalingrado, a URSS avançou sobre Berlim, numa longa guerra de desgaste. Antes da rendição alemã em 1945, os Aliados – Stalin, Churchill (Reino Unido) e Roosevelt (presidente dos EUA) – definiram, em acordos realizados nas cidades de Yalta e Potsdam, a divisão do mundo em zonas de influência.

O Leste Europeu, ocupado pelo Exército Vermelho, virou área soviética. A URSS expropriou propriedades capitalistas na região (“revolução de cima para baixo”), mas a burocracia stalinista, por acordos com o imperialismo, estava longe de estimular a revolução mundial, como demonstrariam os acontecimentos.

A derrota do fascismo acendeu o rastilho de pólvora da revolução mundial, uma outra confirmação das previsões Trotsky. A onda revolucionária se abateu simultaneamente na Europa e na Ásia, rompendo com os limites das negociações de Yalta e Potsdam.

Na Itália, o Partido Comunista (PCI) liderou 100 mil “partisans”, capturando e executando Mussolini, em 1945, e se tornou uma força política pronta para tomar o poder. Do mesmo modo, na França, o PCF saiu com enorme prestígio, após anos de resistência à ocupação.

Porém, nesses dois países, a revolução foi sabotada, quando os Partidos Comunistas, seguindo ordens de Stalin, passaram a integrar governos burgueses, para reconstruir o capitalismo – incluindo a adesão ao Plano Marshall (destinado à reconstrução da Europa Ocidental). Essa traição stalinista teve consequências históricas: uma revolução socialista vitoriosa na França e na Itália, países imperialistas centrais, teria alterado radicalmente o curso do século 20.

Enquanto Stalin conteve a revolução na Europa, na Ásia o movimento revolucionário rompeu limites e conquistou vitórias na China (1949) e na Indochina, com a rendição japonesa, que impulsionou um levante anticolonial. A reação imperialista levaria à Guerra do Vietnã. Mas, esse capítulo da história da Segunda Guerra é para um outro artigo.

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Last Update: 09/05/2025