Desde a primeira Conferência das Partes (COP), realizada no Rio de Janeiro em 1992, o mundo busca transformar alertas climáticos em compromissos concretos. A COP30, marcada para novembro de 2025 em Belém, ocorre em meio a expectativas e incertezas: até abril, apenas 30 dos 153 países haviam apresentado planos nacionais de descarbonização, e a presença de delegações estratégicas, como a dos Estados Unidos, ainda não estava confirmada.

Para Katia Maia, especialista em sustentabilidade no setor financeiro, consultora do Banco Mundial Brasil e PhD em Ciências Ambientais, a COP será um teste da credibilidade do Brasil e da comunidade internacional. “A conferência precisa traduzir compromissos históricos em ações concretas. Enchentes, incêndios e perdas econômicas já mostram a urgência. A COP não pode ser apenas retórica; precisa transformar promessas em resultados”, afirma.

1. Planos de ação nacionais

Segundo Katia, o atraso dos países em apresentar metas compromete a credibilidade global. “Apenas 30 nações entregaram seus planos até abril. Sem metas claras e mecanismos de execução, a meta de limitar o aquecimento a 2 °C precisa ser revista. A COP só terá impacto real se intenções virarem ações mensuráveis.”

2. Financiamento climático

O Acordo de Paris previa US$ 1 trilhão para financiar ações climáticas, mas só US$ 300 bilhões foram efetivamente mobilizados. “Fundos como o Verde e o Tropical Forest Fund são importantes, mas exigem garantias e planejamento rigoroso. O desafio é fazer o dinheiro chegar a quem realmente precisa, sem ficar apenas no papel”, avalia Katia.

3. Fundo para Perdas e Danos

Criado para responder a desastres climáticos, o fundo ainda é limitado diante da escala dos impactos. “O caso do Rio Grande do Sul mostra como emergências exigem respostas rápidas. A COP deve avançar em mecanismos que tornem o processo ágil, sem burocracia excessiva, aumentando a resiliência das comunidades vulneráveis.”

4. Crescimento econômico x sustentabilidade

Segundo a consultora, a tensão entre expansão econômica e preservação segue como impasse central. “Países como a China ainda priorizam crescimento e poder geopolítico. Tecnologias de baixo carbono existem, mas exigem investimentos altos. Sem incentivos e políticas consistentes, os planos continuam no papel.”

5. Polêmicas locais em Belém

Obras de infraestrutura para receber delegações, como a Avenida da Liberdade e reformas de prédios, geram críticas sobre prioridades. “É preciso garantir que o desenvolvimento não ocorra às custas do meio ambiente e que a logística não limite a participação de países menores. A conferência só terá sucesso se conciliar ambição ambiental, inclusão e planejamento estratégico.”

6. Comprometimento internacional

A ausência de delegações importantes e movimentos como a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris expõem fragilidades. “A COP não pode se limitar a discursos e fotos. É hora de transformar declarações em medidas concretas, com acompanhamento rigoroso e responsabilidade compartilhada por governos, empresas e sociedade civil”, conclui Katia Maia.

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Last Update: 24/08/2025