Em 6 de junho de 1770, a Casa da Ópera de Vila Rica, hoje Teatro Municipal de Ouro Preto, foi inaugurada, marcando-se como o teatro em funcionamento mais antigo das Américas. Construído por João de Souza Lisboa, o espaço, localizado no Largo do Carmo, tornou-se um marco cultural da Minas Gerais colonial. A inauguração, celebrada no aniversário do rei português Dom José I, simbolizou a opulência da sociedade barroca mineira, com um repertório que incluía óperas, oratórios e dramas.

João de Souza Lisboa, contratador de impostos reais, idealizou o teatro com apoio do governador Conde de Valadares e do poeta Cláudio Manoel da Costa. O espaço, com 300 lugares distribuídos em plateia, camarotes, frisas e galerias, apresentava uma fachada de pedra com elementos barrocos e neoclássicos. No ano de sua abertura, Lisboa inovou ao incluir duas atrizes, rompendo com a tradição de homens interpretarem papéis femininos, o que gerou impacto cultural. Em carta a Joaquim José Freire de Andrade, intendente do ouro em Goiás, Lisboa destacou a qualidade de uma das atrizes, que superava as do Rio de Janeiro.

O teatro apresentou um repertório variado, com destaque para obras de Cláudio Manoel da Costa, como São Bernardo e traduções de Metastásio, como José Reconhecido e Alex na Índia. Nos oito anos de gestão de Lisboa, até sua morte em 1778, a Casa da Ópera foi palco de temporadas vibrantes, com atores contratados de Sabará e Tijuco. Após sua morte, o teatro enfrentou altos e baixos, mas reviveu em 1786 com apresentações para o casamento do infante Dom João. Em 1811, a companhia local, com 20 atores e 16 músicos, encenou 45 peças, incluindo Escola de Maridos, de Molière.

A estrutura do teatro, com paredes de pedra, frontão triangular e camarotes de madeira, mantém características originais, apesar de reformas ao longo dos séculos. Restaurações recentes revelaram pinturas e adaptações, como estruturas de ferro, que não alteraram sua essência. Em 1820, os espetáculos semanais lotavam o teatro, mesmo com o acesso difícil pela Rua de Santa Quitéria. Affonso Ávila, autor de O Teatro em Minas Gerais: Séculos XVIII e XIX, descreveu: “a quem visita hoje o Teatro Municipal de Ouro Preto, antiga Casa da Ópera, parece ainda tomá-lo de uma atmosfera de envolvimento, de impacto dramático, lembrando o clima barroco”.

No fim do século XIX, a chegada do fonógrafo e do cinema reduziu a frequência nos teatros, mas o de Ouro Preto resistiu, funcionando até hoje com apresentações semanais. Em 1885, o governo provincial considerou construir um novo teatro, mas a reforma de sete anos, concluída com “perfeição e economia”, segundo o presidente Francisco Diogo Pereira de Vasconcelos, preservou o espaço, um símbolo da riqueza cultural mineira e do Brasil.

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Last Update: 06/06/2025