Na cadeia do café, será possível conferir os aromas de luta e resistência do Café Gauií, direto de MG nesta Feira Nacional. Foto: Dowglas Silva 

Por Solange Engelmann
Da Página do MST

Entre as principais frentes da Reforma Agrária, em acampamentos e assentamentos do MST, após a ocupação de um latifúndio improdutivo é a organização das famílias Sem Terra para o planejamento da produção. Como forma de garantir a autossuficiência e a busca de renda, a produção de alimentos e produtos se torna uma prioridade, levando em conta as adaptações das culturas ao local, o tipo de solo e o clima, além de outros fatores essenciais.

Nesse intuito, há mais de 40 anos o MST realiza processos de luta, debates, trocas de experiências, processos formativos e curso educativos, além da busca por créditos agrícolas para a consolidação das cadeias produtivas da Reforma Agrária em todas as regiões do país. A partir desse processo, durante a 5ª Feira Nacional da Reforma Agrária do MST, que acontece de 8 a 11 de maio, no Parque Água Branca, em São Paulo, o Movimento apresenta à população paulista alimentos e produtos de dez cadeias produtivas, como o arroz, café, leite, mandioca, grãos – como feijão, milho e soja -, uma diversidade de frutas, mel, cacau, açaí e vários tipos de castanhas.

A produção dessas cadeias produtivas, enraizadas nos territórios da Reforma Agrária pelo país será compartilhada com a população que passar pelos diversos espaços de comercialização, a partir de alimentos e produtos em vários estágios: in natura, agroindustrializados, alguns com algum grau de industrialização e beneficiamentos e outros em forma de alimentos cozidos e prontos para o consumo no local, a exemplo dos pratos típicos do espaço Culinária da Terra, que vai oferecer uma variedade de sabores de 23 estados, presentes nas cinco regiões do Brasil, todos alimentos produzidos por camponeses e camponesas do MST, que vivem em áreas de assentamentos e acampamentos do país.

“A nosso levantamento inicial sobre as cadeias produtivas do MST para esta Feira é de cerca 500 toneladas de alimentos com mais de aproximadamente 1.800 produtos diferentes. E uns 990 itens de produtos, que têm processamentos mínimos e industrializados. A maioria desses produtos, principalmente os industrializados, está vinculados a uma agroindústria e também às cooperativas do MST nos estados”, explica a dirigente nacional do setor de produção do MST, Giselda Coelho.

Cadeias produtivas da Reforma Agrária apresentam diversidade e sustentabilidade

Entre a diversidade de produtos presentes na feira será possível encontrar vários tipos de arroz, café, feijões, sucos naturais de frutas, polpas de frutas, farinhas, polvilhos, grãos, fava, geleias, lácteos diversos: Iogurte, queijos, requeijão, erva mate, mel, cachaças, licor de castanha de caju, óleo de coco, ovos, alimentos em conserva, legumes e verduras em geral, além de vários tipo de mudas, entre outros. Em sua maioria, são produtos agroecológicos, orgânicos e sustentáveis.

Entre as dez cadeias produtivas do MST que será possível encontrar nesta Feira Nacional, algumas já estão consolidadas em vários territórios da Reforma Agrária, como a do arroz, leite, frutas e sucos, a exemplo do arroz agroecológico no Rio Grande do Sul; outras se encontram em fase de consolidação e construção, como café, castanhas, pimentas e condimentos, mel, mandioca, carnes, milho, soja e feijão, e as demais estão em fase inicial de implantação, como o cacau, açaí, cana de açúcar, ovos, hortaliças, sementes, trigos, plantas medicinais e tomates orgânicos. Ao todo, o MST conta com 21 cadeias produtivas, cultivadas e trabalhadas pelas famílias Sem Terra nas cinco regiões do país. Confira quadro abaixo.

Cadeias produtivas do MST por estados. Imagem: MST

Os avanços na formação das cadeias produtivas da Reforma Agrária tem sido possível em 40 anos de luta do MST, a partir da cooperação entre as famílias assentadas e a organização coletiva na produção de alimentos saudáveis, com a consolidação de grupos coletivos, associações e cooperativas, tornando realidade a agroindustrialização de alimentos. Atualmente o MST conta com 185 cooperativas, 120 agroindústrias e 1.900 em todo o país.

Nesse sentido, Giselda enfatiza que a Feira Nacional tem se tornado um espaço importante para a apresentação e comercialização de produtos e alimentos saudáveis dos assentamentos, em grande parte agroecológicos, mas que ainda permanece o desafio da massificação da agroecologia, devido ao alto custo dos/as camponeses/as na produção de alimentos saudáveis em larga escala para a população.

A massificação da agroecologia e da produção de alimentos saudáveis é um desafio, porque hoje isso ainda tem um custo. Então é um processo que a gente está vivendo em diferentes cadeias e fases, algumas mais consolidadas, outras ainda de transição, mas que necessita de políticas públicas mais robustas por parte dos governos para avançar”, constata.

Produção de Café

Entre a produção de alimentos e um conjunto de produtos das mais de dez cadeias produtivas a serem compartilhados com a população na 5ª Feira Nacional da Reforma Agrária do MST, as famílias Sem Terra estão levando na mala e nas cargas que estão chegando no Parque da Água Branca, em São Paulo, o aroma e sabor de luta de Minas Gerais, com o Café Guaií, diretamente do Sul do estado. O Café Guaií é produzido no agora assentamento Quilombo Campo Grande, no município de Campo do Meio, criado pelo Governo Lula em março deste ano, após 27 anos de luta e resistência.

Foto: Arquivo Cooperativa Camponesa

A produção do café é realizada na área ocupada por aproximadamente 300 famílias Sem Terra, desde 1998, por famílias do MST, que resistiram a 11 despejos, com a destruição das moradias e plantações e da escola popular Eduardo Galeano, durante a pandemia. A desapropriação da área para fins de reforma agrária é fundamental para o avanço da produção de alimentos saudáveis, como o Café Guaií, com a produção de cerca de dois milhões de pés de café orgânico.

O café é comercializado em todo Brasil a partir da Cooperativa dos Camponeses Sul Mineiros, a Camponesa, e produzido de forma agroecológica e orgânica, sem uso de insumos químicos, agrotóxicos e sementes transgênicas. A marca Guaií foi lançada em 2015, buscando facilitar o escoamento da produção cafeeira e outros frutos da diversificação agroecológica.

Foto: Arquivo Cooperativa Camponesa

O Coordenador da Cooperativa Camponesa, Roberto Carlos do Nascimento, explica que a produção orgânica do Café Guaií já é certificada. E que a produção agroecológica ainda não conta com selo, mas utiliza apenas insumos orgânicos. Ele também comemora a importância da Feira da Reforma Agrária na divulgação do café para a sociedade.

“Nós, enquanto Cooperativa Camponesa e Café Guaií, participamos desde a primeira Feira Nacional, pois é um espaço muito importante para divulgar o nosso produto. E São Paulo é uma capital onde tem uma população muito grande e importante. Nesse espaço, além de divulgar e apresentar os nossos produtos para a sociedade, mostrando a importância da Reforma Agrária, das cooperativas, da cooperação das família de estar produzindo alimentos mais saudável para a sociedade”, resume.

Foto: Dowglas Silva 

“Nosso café é fruto da resistência e do sonhar de um novo projeto de sociedade, no qual a vida esteja em primeiro lugar”, destaca Tuira Tule, da coordenação nacional do MST. Além do Café Gauií, as famílias também produzem uma diversidade de outros alimentos que estão na Feira, como milho, mandioca, feijão, leite, gado de corte, entre outros.

Veja Mais: Guaií: A semente boa que chega às suas mãos pela Cooperativa Camponesa

Produção de Açaí

Diretamente do Pará, na região Amazônica, a população que passar pela 5ª Feira Nacional da Reforma Agrária do MST, em São Paulo vai poder saborear as delícias do açaí. A fruta típica da região amazônica poderá ser encontrada nas barracas da Feira em forma de polpa e in natura, em sucos, sorvetes e outras formas de preparo.

Reconhecido por suas propriedades nutricionais e riqueza em antioxidantes e gorduras saudáveis, a produção de açaí na Feira Nacional envolve famílias de oito assentamentos e três acampamentos da região metropolitana de Belém e do município de Belém. Os produtos são comercializados na região em feiras e mercados locais, além dos programas institucionais como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

Foto: Antônio Lopes dos Santos

Raimundo Nonato dos Santos filho, do setor de produção do MST no Pará, explica que as famílias vêm cultivando a produção de açaí em consórcio com a floresta e em Sistemas Agroflorestais, e trabalhado com o processamento de polpas e a comercialização in natura do açaí, em parceria com uma agroindústria familiar da região. Mas, que as famílias estão em processo final de organização da COOPER d’Amazônia, que irá beneficiar e comercializar polpas de frutas e a produção de açaí em áreas de assentamento do MST no estado.

As famílias assentadas do Pará tem trabalhado diretamente, com o açaí natural, comercializando o produto com pequenas agroindústrias, conhecidas como batedeiras na região metropolitana de Belém. E também com polpas, que são vendidas em restaurantes, no Armazém do Campo de Belém e a domicílio, para as pessoas que compram para alimentação, diretamente. Ou seja, estabelecendo uma relação mais próxima entre produtor e consumidor.

Raimundo comemora a realização da Feira Nacional este ano por considerar um espaço importante de articulação com a sociedade para apresentar os frutos da Reforma Agrária. “Ajudar a propagandear a defesa da luta pela terra e pela Reforma Agrária, e em descobrir formas diferentes de mercado, fugindo da centralidade mercadológica que tem hegemonizado a produção agrícola. Construindo formas diferenciadas de comercializar, em canais direto de diálogo com a sociedade e ofertar nossa produção, que a gente tem se empenhado para que seja limpa e saudável”, completa.

Produção de Frutas

Em relação à cadeia de produção de frutas, será possível saborear frutas produzidas por famílias assentadas de todas as regiões do país. Diretamente do Nordeste, mais especificamente de Pernambuco, estão presentes nesta Feira cerca de 9.650 kg de frutas diversas, do sertão e de outras regiões do estado, como manga, uva, goiaba, acerola, banana, melancia e melão.

Foto: Agência Repórter Brasil

No Sertão do estado, que engloba as regionais do MST, como São Francisco, Regional Vale do São Francisco e do Araripe, os/as assentados ainda não contam com agroindústria de beneficiamento das frutas, mas as frutas são comercializadas in natura, diretamente para programas governamentais de compra direta, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

Bia, do setor de produção do MST no estado, afirma que a produção da cadeia de frutas é fundamental para a obtenção de renda dos/as trabalhadores/as Sem Terra. “cumpre esse papel importante também de diálogo com a sociedade”.

Nesse cenário, Giselda aponta que outro desafio que o MST tem centrado esforços no último período é de como enfrentar as desigualdades regionais do país em relação ao acesso à tecnologia para a agricultura familiar e camponesa e avançar na instalação de pelo menos uma agroindústria em cada estado.

“O desafio colocado, que pretendemos avançar com a Feira Nacional, é como, considerando as diferentes regiões do país, podemos ir reparando as desigualdades no desenvolvimento. Por exemplo, em relação aos frutos amazônicos, hoje não temos agroindústrias em territórios do MST. Então, nosso desafio é que a gente possa ter em todas as regiões produtos industrializados, ou que estejam em processo de desenvolvimento, ligado à luta da Reforma Agrária”, conclui a dirigente.

*Editado por Fernanda Alcântara

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Last Update: 05/05/2025