Na última segunda-feira (7), foi realizada a segunda aula do curso de formação política A teoria marxista da revolução e a situação atual, ministrado pelo presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta. Transmitida ao vivo pela plataforma Unimarxista, a exposição aprofundou a análise sobre os fundamentos do materialismo histórico, com destaque para a relação entre as forças produtivas e as relações de produção, tema essencial para a compreensão da teoria da revolução.
O dirigente do PCO deu início à aula retomando a ideia central do marxismo de que a anatomia da sociedade civil deve ser buscada na economia política. A partir disso, Pimenta relembrou que as relações de produção — isto é, a forma como uma sociedade organiza a produção e a propriedade — constituem a base econômica de qualquer formação social. Essa base, afirmou, define a estrutura objetiva da sociedade, sobre a qual se ergue uma superestrutura composta por instituições como o Estado, o Judiciário, a repressão e as organizações políticas.
Segundo o dirigente, a superestrutura não possui autonomia própria, sendo, na realidade, uma expressão condensada das contradições da base econômica. Para demonstrar isso, recorreu à conhecida formulação de Lênin para afirmar que “a economia é política concentrada”, ou seja, os partidos, as instituições e os conflitos políticos expressam diretamente as contradições entre as classes sociais, em particular entre os proprietários dos meios de produção e os que apenas possuem sua força de trabalho.
Com isso, Pimenta destacou que as disputas entre direita e esquerda são reflexos diretos das relações econômicas. A existência de partidos operários e partidos patronais expressa a luta entre operários e patrões. Entre essas duas classes fundamentais, existem, naturalmente, setores intermediários — as chamadas classes médias — que oscilam conforme os desdobramentos da luta social.
O presidente do PCO também pontuou que, ao tratar de relações econômicas, Marx não discute indivíduos, mas categorias abstratas como capital e trabalho. A análise marxista, portanto, não se refere à moralidade de sujeitos isolados, mas à forma objetiva como se estrutura a sociedade. A classe trabalhadora, lembrou, não é uma categoria moral, mas histórica: são aqueles que, despossuídos dos meios de produção, vivem da venda da sua força de trabalho.
O centro da exposição concentrou-se, então, no conceito de forças produtivas, definido por Pimenta como o conjunto do conhecimento humano aplicado à produção. A título de exemplo, mencionou o salto histórico ocorrido nas indústrias, onde poucos operários são hoje capazes de produzir centenas de unidades em uma única hora, algo impensável há um século.
A força de trabalho, as ferramentas, as máquinas e a técnica — todos esses elementos compõem as forças produtivas. O mesmo raciocínio se aplica aos meios de transporte, às telecomunicações e à informática.
Pimenta destacou que o capitalismo, em sua fase inicial, foi um grande impulsionador das forças produtivas. No entanto, à medida que sua base econômica se consolidou, as relações de produção passaram a frear o desenvolvimento, tornando-se um obstáculo ao progresso da humanidade. Como exemplo atual, o dirigente do PCO apontou as tentativas de conter os avanços da inteligência artificial sob pretextos como o “direito autoral”, uma reação conservadora que busca preservar privilégios às custas do progresso técnico.
A partir disso, Pimenta expôs a concepção marxista da revolução: trata-se do momento em que as relações de produção deixam de promover e passam a obstruir o desenvolvimento das forças produtivas. Esse conflito entre o que é necessário para o progresso e o que o impede é a base material das revoluções sociais. “A revolução não ocorre porque o sistema não alimenta as pessoas”, afirmou, “mas porque ele já não funciona como deveria, e as massas populares não conseguem mais sobreviver sob as condições impostas”.
A crise permanente do capitalismo, explicou Pimenta, é reflexo direto dessa contradição entre forças produtivas avançadas e relações de produção arcaicas. A miséria crescente, os conflitos armados, a repressão estatal e os colapsos econômicos são sintomas dessa incapacidade do regime burguês de dar continuidade ao desenvolvimento da sociedade.
Contudo, Pimenta advertiu que a existência da crise, por si só, não produz a revolução. A revolução só se realiza quando há uma organização política capaz de canalizar a insatisfação das massas. “A consciência não é medida pelo que as pessoas pensam, mas pela sua ação coerente”, afirmou, destacando o papel central do partido operário como expressão mais avançada dessa consciência.
Para ilustrar essa ideia, Pimenta resgatou episódios históricos. Recordou que a organização revolucionária Liberdade e Luta nasceu com algumas dezenas de militantes e em poucos anos já reunia milhares. Também citou o caso da Rússia czarista, onde a população, em sua maioria analfabeta e religiosa, rompeu com o regime por meio da experiência concreta da guerra, da fome e da repressão. A consciência, explicou, forma-se pela ação, não por meio da especulação subjetiva.
A luta do povo palestino foi outro exemplo abordado. Pimenta destacou que, apesar de todo o massacre promovido por “Israel”, o Hamas continua mobilizando dezenas de milhares de combatentes, infligindo derrotas sucessivas à ditadura sionista. Isso demonstra, segundo o dirigente do PCO, que a revolução é uma necessidade histórica. Onde o povo é oprimido ao limite, a ação revolucionária emerge como reação inevitável à brutalidade do imperialismo.
Ao tratar da situação brasileira, Pimenta afirmou que já se vislumbra um processo de ebulição social. As greves começam a surgir, as mobilizações em solidariedade à Palestina se intensificam, e o regime político mostra claros sinais de desestabilização. Apesar de ainda não haver uma situação pré-revolucionária plena, a tendência é de radicalização da luta de classes.
Nesse contexto, Pimenta reiterou que a preparação para a revolução não pode ser improvisada. O partido revolucionário precisa formar quadros, preparar militantes, desenvolver uma equipe técnica e política capacitada para lidar com as tarefas que virão. “Não se constrói uma direção revolucionária da noite para o dia”, alertou. É um processo de formação, de luta, de dedicação militante.
Por fim, Pimenta comparou o desenvolvimento revolucionário a uma panela de água em ebulição: as primeiras bolhas surgem isoladas, mas, gradualmente, tomam conta de todo o recipiente. As mobilizações, ainda dispersas, tendem a crescer, a se articular, a colocar em xeque o poder da burguesia. A censura, a repressão e os ataques às liberdades democráticas são tentativas desesperadas de conter um processo inevitável.
A segunda aula do curso reafirmou, com base científica, que o capitalismo não tem mais nada a oferecer à humanidade e sua superação é uma exigência histórica. A preparação para esse enfrentamento é a tarefa central dos revolucionários. Por isso, o PCO realiza seu curso de formação política: para formar os quadros que estarão à frente da luta decisiva da classe operária brasileira.