Há 492 anos, na última quarta-feira (28), o arcebispo da Cantuária Thomas Cranmer declarou válido o casamento do rei Henrique VIII da Inglaterra com Ana Bolena, marcando um evento que abriu caminho para a Reforma Protestante e o racha na cristandade ocidental. A decisão desafiou a autoridade do papa Clemente VII, que se recusava a anular o primeiro casamento de Henrique VIII com Catarina de Aragão, levando à criação da Igreja Anglicana.
Henrique VIII, pressionado pela necessidade de um herdeiro masculino, buscava anular seu casamento com Catarina de Aragão, com quem teve apenas uma filha, Maria. O rei enfrentava a resistência do papa, que temia desagradar o imperador Carlos V, sobrinho de Catarina. Diante da recusa papal, Henrique VIII rompeu com Roma. Em janeiro de 1533, ele se casou secretamente com Ana Bolena, que já estava grávida de Isabel, futura rainha da Inglaterra. Thomas Cranmer, nomeado arcebispo em março daquele ano, foi o responsável por legitimar a união, declarando nulo o casamento com Catarina dias antes, em 23 de maio.
A decisão de Cranmer teve consequências históricas. Em 1534, o Ato de Supremacia, aprovado pelo Parlamento inglês, consolidou a ruptura com o Vaticano, estabelecendo Henrique VIII como chefe da Igreja da Inglaterra. A Reforma Protestante, que já ganhava força na Europa com líderes como Martinho Lutero, encontrou na Inglaterra um terreno livre. Mosteiros foram dissolvidos, e suas riquezas, confiscadas pelo rei.
A ruptura também gerou tensões. Catarina de Aragão morreu em 1536, isolada e ainda se considerando rainha. Ana Bolena, por sua vez, não conseguiu dar a Henrique VIII o herdeiro masculino esperado. Em 1536, acusada de adultério e traição, foi executada. Henrique VIII se casaria outras quatro vezes, mas apenas com sua terceira esposa, Joana Seymour, teve um filho homem, Eduardo VI. A Igreja Anglicana, consolidada no reinado de Isabel I, filha de Ana Bolena, tornou-se um pilar da identidade inglesa, embora as divisões religiosas persistissem, levando a conflitos como a Guerra Civil Inglesa no século XVII.
O ato de Thomas Cranmer em 28 de maio de 1533 não foi apenas um evento matrimonial: foi o estopim para a reconfiguração religiosa e política da Europa. A Reforma Protestante, impulsionada por esse rompimento, transformou os Estados da Europa Ocidental para sempre, abrindo caminho para um enfraquecimento da Igreja Católica, que por sua impulsionou o fortalecimento da nascente burguesia.