Há exatos 101 anos, o imperialismo norte-americano formalizava sua retirada da República Dominicana, encerrando uma ocupação militar iniciada em 1916. Em 25 de junho de 1924, o controle do país caribenho retornava às mãos dominicanas, marcando o fim de um período de intervenção direta imposta pelos Estados Unidos. A ocupação foi justificada pelos EUA como uma resposta à instabilidade política e à desastrosa situação econômica da nação.

A conjuntura que antecedeu a invasão era de grande instabilidade. No início do século XX, a República Dominicana enfrentava uma profunda crise financeira. Em janeiro de 1905, o governo dos Estados Unidos, invocando a Doutrina Monroe, assumiu o controle dos serviços aduaneiros do país.

Os anos seguintes foram marcados por uma sucessão de revoltas e golpes de Estado. Em 1914, o então presidente norte-americano Woodrow Wilson, lançou um ultimato às facções dominicanas em conflito, ameaçando impor um novo governo caso não chegassem a um acordo, o que naturalmente não passava de pretexto para intervenção. Um consenso levou à realização de eleições em outubro, que elegeram Juan Isidro Jimenes Pereyra.

Pereyra propôs a nomeação de norte-americanos para cargos-chave no governo dominicano, como diretor de obras públicas e conselheiro financeiro, além da criação de uma nova força militar sob comando dos EUA. Mais atento à soberania do país, o Congresso dominicano rejeitou a proposta e iniciou um processo de impeachment contra Pereyra.

Em abril de 1916, o Secretário de Guerra da República Dominicana Desiderio Arias, tomou o poder por meio de um golpe. Este evento serviu de pretexto para os Estados Unidos ocuparem o país. Em 13 de maio, o contra-almirante William B. Caperton forçou Arias a deixar Santo Domingo, sob ameaça de bombardeio naval.

Três dias após a saída de Arias, os fuzileiros navais dos EUA desembarcaram e assumiram o controle do país em dois meses. Em novembro, os Estados Unidos impuseram um governo militar sob o comando do contra-almirante Harry Shepard Knapp. As forças de ocupação submeteram quase toda a república, exceto na região leste, já colocando em prática um programa de austeridade fiscal contra a população. Além disso, a ditadura norte-americana organizaria também uma força militar profissional, a Policía de la Guardia Dominicana, ou Guardia Nacional, substituindo as milícias partidárias que se envolviam em lutas pelo poder.

A violência da ocupação seria respondida com a emergência de um movimento de guerrilha, conhecido como os gavilleros, com apoio significativo da população nas províncias orientais de El Seibo e San Pedro de Macorís. Com grande conhecimento do terreno local, os gavilleros lutaram contra a ocupação dos Estados Unidos entre 1917 e 1921.

As forças navais norte-amdricanas mantiveram o controle da invasão durante o período de insurreição. Em 1921, os gavilleros foram esmagados pela superioridade aérea, pelos ataques constantes e pelos métodos de contrainsurgência do Exército dos Estados Unidos.

Após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), contudo, a opinião pública nos Estados Unidos começou a se manifestar contra a ocupação. Warren G. Harding, que sucedeu Woodrow Wilson em março de 1921, fez campanha contra as ocupações militares no Haiti e na República Dominicana.

Em junho de 1921, com a dificuldade crescente para manter a ocupação, os EUA apresentaram uma proposta de retirada, o “Plano Harding”, que exigia a ratificação dominicana de todos os atos do governo militar, a aceitação de um “empréstimo” de US$2,5 milhões, a aceitação de oficiais norte-americanos na Guarda Nacional e a realização de eleições sob supervisão dos Estados Unidos. A reação popular ao plano foi extremamente negativa.

No entanto, alguns líderes dominicanos moderados usaram o plano como base para futuras negociações. Isso resultou em um acordo entre o Secretário de Estado norte-americano Charles Evans Hughes e o embaixador dominicano nos EUA Francisco J. Peynado, em 30 de junho de 1922.

O acordo permitia a escolha de um presidente provisório para governar até que as eleições pudessem ser organizadas. Sob a supervisão do Alto Comissário Sumner Welles, Juan Bautista Vicini Burgos assumiu a presidência provisória em 21 de outubro de 1922. Na eleição presidencial de 15 de março de 1924, Horacio Vásquez Lajara, um aliado do imperialismo, derrotou facilmente Peynado. O Partido Aliança de Vásquez também obteve uma confortável maioria nas duas câmaras do Congresso. Com a posse de Vásquez em 13 de julho, o controle do país retornou às mãos dominicanas.

Uma das principais consequências da ocupação foi a ascensão de Rafael Trujillo. Trujillo recebeu uma incumbência como segundo-tenente da Guarda Nacional, criada pelo imperialismo no início de 1919. Trujillo, que antes tinha um histórico de crimes, recebeu altas recomendações dos oficiais militares dos EUA e, em 1928, tornou-se chefe do Exército do país.

Com uma eleição fraudada em 1930, Trujillo assumiu a presidência da República Dominicana. Mesmo o Departamento de Estado dos Estados Unidos o considerando “uma espécie de Frankenstein”, que provavelmente geraria novas insurreições, o governo imperialistas apoiou suas táticas de mão de ferro, pois isso evitava a necessidade de uma nova intervenção militar.

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Last Update: 26/06/2025