Há exatos 213 anos, 24 de junho de 1812, tinha início um dos eventos mais grandiosos e, simultaneamente, mais catastróficos da história militar europeia moderna: a invasão da Rússia pelas forças de Napoleão Bonaparte. Naquele dia, Bonaparte cruzava o rio Neman, na fronteira do Império Russo, dando o pontapé inicial na Campanha da Rússia, uma aventura que, mais do que qualquer outra, selaria o destino de seu império e mudaria o curso da história continental.

Um colossal contingente militar, conhecido como Grande Armée, reunindo cerca de seiscentas mil pessoas de várias partes da Europa sob a liderança de Napoleão, avançou pelo imenso território da Rússia. A meta principal era coagir o czar Alexandre I a se submeter e aderir integralmente ao Bloqueio Continental, uma sanção econômica que a França impusera à Grã-Bretanha, visando consolidar a supremacia francesa sobre o continente europeu. Napoleão antecipava uma vitória rápida e esmagadora, pretendendo aniquilar as forças russas em poucos confrontos decisivos, um método que ele costumava empregar.

A estratégia adotada pelos russos subverteu, no entanto, completamente os planos do imperador francês. Em vez de se engajarem em um combate direto com a formidável máquina de guerra napoleônica, o czar e seus comandantes optaram pela tática da terra devastada. Conforme recuavam para o interior do país, os russos sistematicamente destruíam lavouras, pontes, povoados e tudo o que pudesse servir para sustentar o exército invasor.

Essa tática, somada à imensidão do terreno, ao alongamento progressivo das linhas de suprimento e ao rigor implacável do inverno russo, transformou a expedição em um pesadelo angustiante para as tropas francesas. Elas começaram a ser dizimadas pela fome, enfermidades e pelo desespero. Mesmo após a conquista de Moscou em setembro, uma cidade entregue às chamas e à ruína, Napoleão não conseguiu obter a rendição russa.

Com a escassez de provisões adequadas e a iminência de um inverno gélido, a retirada tornou-se a única opção. O que se seguiu foi uma das mais terríveis e mortais retiradas militares da história, com milhares de soldados franceses e seus aliados perecendo devido ao frio extremo, à exaustão, à inanição e aos ataques incessantes das tropas russas. Apenas uma diminuta parcela da força expedicionária original conseguiu retornar, exaurida e moralmente abatida.

O revés na Rússia não só desfez o mito da invencibilidade de Napoleão, mas também desencadeou uma série de eventos por toda a Europa. As nações do continente, que antes viviam sob o jugo do imperador, vislumbraram em sua vulnerabilidade uma chance de se libertarem do domínio francês.

A derrota no território russo serviu como o ponto de inflexão para a formação da Sexta Coligação, uma aliança que desafiaria e, por fim, derrotaria Napoleão, culminando em sua primeira abdicação em mil oitocentos e quatorze. A campanha na Rússia, portanto, não representou apenas uma batalha perdida, mas o início do desmoronamento do Império Napoleônico.

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Last Update: 24/06/2025