Neste dia, há 65 anos e no auge do asqueroso regime do “apartheid” (“segregação” ou “total separação”, em africâner, a língua imposta pelos colonizadores brancos na África do Sul), a polícia disparou mais de 1.500 tiros contra uma multidão (calcula-se em cerca de 5 mil pessoas) que protestava contra a “Lei dos passes”, que obrigava toda as três “categorias” da população não-branca (mestiços, indianos e negros) a portarem uma espécie de passaporte, exigido todas as vezes que eles saíam das áreas restritas onde podiam morar.
O ato foi convocado pelo Congresso Pan-Africanista, uma das organizações mais ativas e combativas da época. O número de vítimas até hoje é incerto, mas calcula-se que foram 329 pessoas – 91 mortas e 238 feridas (incluindo 30 crianças). O grau da crueldade covarde da polícia do regime ficou evidente, também, no fato de que a maioria delas recebeu tiros nas costas, enquanto fugia desesperadamente.
Se não bastasse, a violência não parou por aí. Dias depois, o regime racista decretou Estado de Emergência e prendeu cerca de 20 mil pessoas, dentre elas as principais lideranças da luta anti-apartheid, incluindo Nelson Mandela, do Congresso Nacional Africano (CNA), o que forçou quase todas as organizações a entrarem para a clandestinidade.
Mas, a revolta e o repúdio também aumentaram. Dentro e fora do país. Foi isto o que também forçou a Organização das Nações Unidas, em 1966, a estabelecer a data como “Dia Internacional pela eliminação da discriminação racial”, como também acentuou o boicote e ruptura de vários países e entidades com a África do Sul.
Contudo, a única forma de realmente homenagear aqueles e aquelas que lutaram e deram suas vidas em Shaperville é seguir na batalha contra o racismo e a segregação. Inclusive, lamentavelmente, no interior da própria África do Sul, onde, hoje, como testemunhei nas três vezes em que estive lá, prevalece o que chamam de “apartheid neoliberal”, já que, apesar da derrubada das leis, a “lógica do capital” continua alimentado a segregação e a desigualdade.