Em editorial veiculado no programa TVGGN 20 Horas, transmitido ao vivo no canal do GGN no YouTube, o jornalista Luis Nassif avaliou que o ano de 2024 marcou o início da volta da democracia ao eixo. O ano foi “pesado”, mas com o mérito de deflagrar o processo de punição daqueles que tentaram dar o golpe de Estado em 2022 e também dos que ajudaram a forjar as circunstâncias que levaram à ascensão do bolsonarismo.
Colocando os fatos numa perspectiva temporal, Nassif voltou ao ano de 2005, quando “começa o jornalismo de esgoto da Veja, seguido do Mensalão”. Com setores da grande mídia empenhados em atacar Lula e o PT a qualquer custo, a década de 2010 marcou o “desarranjo total da democracia brasileira”.
“Muitos setores se aproveitaram da fragilidade dos sucessivos governos federais. Tivemos, em todo esse período, um atropelo das normas básicas de freios e contrapesos que caracterizam a democracia. Aos poucos é que vamos entrando nos eixos”, comentou Nassif.
A volta à normalidade passa pela revisão dos abusos da Lava Jato. “Está começando a ser enquadrada através do relatório do Conselho Nacional da Justiça, do ministro Luis Felipe Salomão, que está sendo retido vergonhosamente pelo procurador-geral Paulo Gonet”, disse Nassif, citando o trabalho da corregedoria-nacional de Justiça, que inspecionou os principais tribunais da Lava Jato e descobriu uma série de improbidades que geraram ações contra Gabriela Hardt e desembargadores do TRF-4.
Para Nassif, nesse tema, “Gonet está sendo vergonhoso. É um processo demorado de reconstrução da democracia, com muita gente se arriscando para colocar as coisas no lugar, e Gonet prevaricando, segurando o relatório do Salomão. Isso depõe contra a imagem dele.”
Já a Polícia Federal, que na Lava Jato teve um papel ambíguo, também deu sinais de que voltou a atuar com imparcialidade. Na Lava Jato, muitos delegados sentiram o gosto do poder e transcenderam os limites. E aqueles que “tentavam se comportar corretamente, foram perseguidos e condenados por calúnia, por causa de informações que eram verdadeiras, como no caso do grampo em Alberto Youssef na Lava Jato. Agora a PF parece estar cumprindo seu papel profissional, com exceção da Polícia Rodoviária Federal que continua sendo um centro de massacre”, avaliou Nassif.
Sobre o Congresso, recaiu em 2024 uma decisão histórica em relação às emendas parlamentares, que, na visão de Nassif, “viraram alvos de uma quadrilha”. “Em meio a deputados que distribuem bem as suas emendas, há o crime organizado atuando, como mostrou o rei do lixo na Bahia. O ministro Flávio Dino, de maneira corajosíssima, peitou, e pôs a Polícia Federal para investigar”, disse Nassif.
Por fim, fechamos o ano com uma necessária e inédita discussão, ainda que embrionária, sobre os limites de poder do mercado financeiro. “Com todo esse potencial de chantagem – não o mercado como um todo, mas um grupo específico que atua no cartel do câmbio -, começa a judicialização dos abusos. O câmbio e os juros estão sendo controlados pelo mercado, isso é uma extravagância que interfere na vida das empresas, nos empregos, na renda das famílias. Está começando, primeiro, a se questionar o cartel da Faria Lima – e vai se chegar nele. (…) E ainda há o ponto da taxa Selic, que é fixada pelas expectativas do mercado. Essa judicialização, que muita gente pode achar indevida ou anacrônica, é o início de processo de enquadramento do mercado, para colocar o mercado no seu devido lugar, como instrumento de financiamento das empresas, mas não dono absoluto dos principais preços do país.”
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