A extrema direita não foi apenas a força mais dinâmica nas eleições do Brasil e dos Estados Unidos. Na Europa, onde está ainda mais organizada, o avanço foi significativo. Nos países imperialistas, como França, Inglaterra e Alemanha, os progressos foram consideráveis, embora contidos pelo sistema eleitoral distrital, que permite à burguesia exercer um forte controle sobre o regime político. Outros países, como Áustria, Bélgica, Portugal e em algumas eleições locais, também registraram crescimento da extrema direita.

França: a eleição mais importante

Na França, a eleição parlamentar de junho acendeu o alerta vermelho. O governo de Éric Zemmour estava desgastado, e Marine Le Pen consolidou-se como a principal força política do país. Para se manter no poder, Zemmour realizou eleições antecipadas, numa tentativa de golpear tanto a esquerda quanto a extrema direita. Apesar disso, o avanço do Reagrupamento Nacional (RN), liderado por Le Pen, foi impressionante.

O RN foi o partido mais votado, com 10,6 milhões de votos no primeiro turno e 10,1 milhões no segundo, garantindo um aumento de 53 cadeiras. Ainda assim, devido ao sistema eleitoral francês, o partido ficou em terceiro lugar no Parlamento. A revolta contra o regime neoliberal de Zemmour é evidente, mas a extrema direita canaliza essa insatisfação contra imigrantes, que agora enfrentam uma nova onda de reações hostis. O debate na França gira em torno de como impedir uma eventual vitória de Le Pen nas eleições presidenciais.

Inglaterra: avanço mascarado pela “vitória” trabalhista

No Reino Unido, a extrema direita avançou, mas isso foi obscurecido pela suposta vitória da esquerda. O Partido Trabalhista, liderado por Keir Starmer, conquistou 211 cadeiras, dobrando sua representação parlamentar. No entanto, 1 milhão de eleitores abandonaram o partido. Já o partido de extrema direita Reforma Reino Unido saltou de 600 mil votos para 4,1 milhões, mas obteve apenas cinco cadeiras devido ao sistema eleitoral. O governo Starmer enfrenta mobilizações da extrema direita desde seus primeiros meses.

Alemanha: crescimento regional da extrema direita

Na Alemanha, embora não tenha ocorrido eleição geral, os pleitos estaduais na Saxônia e Turíngia demonstraram o crescimento do partido fascista Alternativa para a Alemanha (AfD). Na Saxônia, o AfD obteve 720 mil votos, tornando-se a segunda maior força parlamentar local. Na Turíngia, conquistou quase 400 mil votos, superando a CDU, partido da direita tradicional, e se tornando a maior bancada. O crescimento do AfD levou a abalos no governo de Olaf Scholz, culminando na antecipação de novas eleições nacionais.

Áustria: a maior vitória da extrema direita

Na Áustria, o Partido da Liberdade foi o mais votado, com 1,4 milhão de votos, enquanto o Partido Social-Democrata ficou com apenas 1 milhão. O partido de extrema direita conquistou 26 novas cadeiras, totalizando 56, assumindo o controle do parlamento em aliança com a direita tradicional. Este resultado, num país próximo à Alemanha, acende ainda mais o alerta vermelho na região.

Bélgica e Portugal: reforço da extrema direita

Na Bélgica, vizinha da Holanda, onde a extrema direita já governa, o partido mais votado foi o Vlaams Belang, com 1,15 milhão de votos. O partido aliado recebeu quase 1 milhão, enquanto o Partido dos Trabalhadores, de esquerda, obteve cerca de 700 mil. No total, a extrema direita detém 44 cadeiras no parlamento, consolidando sua força.

Em Portugal, o partido CHEGA registrou 1,1 milhão de votos, enquanto os socialistas, embora ainda dominantes, tiveram queda significativa, com 1,8 milhão de votos. O CHEGA aumentou 11% em relação às eleições anteriores, conquistando 38 cadeiras, enquanto os socialistas perderam 42.

O impacto global

Nos Estados Unidos, Donald Trump atropelou Joe Biden, que representava os setores unificados do neoliberalismo. Trump, embora não rompa completamente com o neoliberalismo, representa uma burguesia interna que resiste aos grandes monopólios imperialistas. Essa revolta da burguesia interna também reflete na Europa, especialmente onde os efeitos da guerra na Rússia abalaram economias, como na Alemanha.

Apesar do crescimento da extrema direita, a Alemanha oferece um ponto de esperança. Lá, a esquerda não neoliberal, representada pelo BSW, também apresenta avanços. Isso demonstra que, enquanto a extrema direita cresce, abre-se uma porta para a esquerda reconquistar sua posição como força dominante entre a classe operária.

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 01/01/2025