No Dia Internacional de Luta dos Trabalhadores, o deputado federal pelo PT Lindbergh Farias publicou coluna no Brasil 247 onde exalta o que seriam conquistas do atual governo Lula. Intitulada Um 1º de Maio histórico: emprego e renda em alta, a coluna apresenta um quadro de “recuperação de direitos e redução da pobreza” que temos dificuldades de enxergar no mundo real.
Farias começa seu texto anunciando que os trabalhadores têm muito a comemorar neste 1º de Maio, pois Lula teria revertido os retrocessos do governo Bolsonaro em pouco mais de dois anos, “resgatando conquistas e políticas públicas em defesa dos trabalhadores”. Seria possível reverter em dois anos os retrocessos impostos desde o golpe de Estado contra o governo Dilma? Talvez. Mas não com essa política insossa que o governo vem fazendo desde a vitória eleitoral em 2022. Sem incomodar o grande capital que parasita a economia brasileira não há como melhorar as condições de vida dos trabalhadores.
Apontando dados publicados pela Fundação Getúlio Vargas, o deputado coloca que a renda dos mais pobres subiu 10,7% acima da inflação. O aumento real do salário mínimo teria sido de 3% de 2023 a 2024, passando de R$1.320,00 para R$1.412,00. Em janeiro deste ano, chegou a R$1.518,00. Cerca de R$ 200,00 reais em dois anos. A comparação entre os índices de aumento do salário mínimo e a inflação esconde que a inflação geral divulgada não condiz com a inflação que o trabalhador encontra nas prateleiras dos mercados.
Em comparação com a inflação geral de 2024, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de 4,83%, a inflação nos preços dos alimentos no mesmo período foi de 7,69%. Isso torna o aumento de 7,5% no salário mínimo em janeiro de 2025 inferior à inflação dos alimentos. Não é razoável tentar convencer o povo de que os salários estão sendo reajustados acima da inflação quando esses salários não conseguem nem acompanhar os preços dos alimentos. Comemorar avanços que se chocam com a percepção dos trabalhadores não parece uma estratégia que dará bons frutos ao PT, muito pelo contrário.
Muito mais digno e frutífero seria tratar os trabalhadores com mais respeito e jogar limpo, por exemplo, dizendo que o governo está fazendo pouco, mas que gostaria de fazer mais. E apontar que forças e interesses políticos estão impedindo isso. Chamar o povo para a luta pelos seus direitos, pela melhoria das suas condições de vida, agitar a militância e trazer os trabalhadores para sua trincheira.
O deputado petista denuncia com razão os ataques do governo Bolsonaro ao poder de compra do trabalhador, tendo inclusive congelado o salário ou dado reajustes abaixo da inflação. Para recuperar o valor real dos salários então não bastaria dar aumentos pequenos, que só seriam aceitáveis se os salários já estivessem bem valorizados. Numa situação dessas, os aumentos dados no governo Lula serviriam para manter o poder de compra dos salários, no melhor dos casos. Porém, diante do diagnóstico de que o salário mínimo passou por um processo de desvalorização, era preciso um plano mais ousado, como proposto neste Diário.
Ações mais enérgicas nesse sentido seriam percebidas naturalmente pela população, incluindo quem votou em Bolsonaro e sofre influência política da extrema direita, que acaba dando uma vazão à revolta popular, mesmo que seja só demagogia. A esquerda, por outro lado, desperdiça a oportunidade de dar uma vazão real a essa revolta, chamando ao enfrentamento contra os bancos e a direita que quer submeter o povo aos interesses do capital. Ao invés disso, chama o povo a apoiar o regime político que o esmaga e a comemorar as migalhas que os capitalistas permitem que se distribua.
O discurso de valorização do salário mínimo contrasta com medidas como o teto de 2,5% de aumento real do salário mínimo, proposto pelo governo e obviamente aprovado pelo Congresso. Por que diabos limitar o aumento real de um salário mínimo que vem sendo atacado desde o golpe de 2016? Como é possível acreditar que é possível melhorar as condições de vida do povo e reduzir os gastos públicos com a população ao mesmo tempo?
Essa economia em cima dos trabalhadores vai direto para os bancos, ou seja, o dinheiro deixa de ir para o trabalhador brasileiro e vai para fora do país, para os parasitas do mercado financeiro. É isso que significa atualmente essa redução do gasto público. Com a obscena transferência transferência de recursos do orçamento para “juros e amortizações da dívida pública“, ninguém mexe. Quase metade do dinheiro arrecadado com impostos vai para esse buraco negro da economia brasileira, uma sangria desatada. Uma dívida que já foi paga várias vezes, mas que nenhum governo ousa auditar, pois os interessados nessa sangria são os donos do mundo nessa fase do regime capitalista.