Na década de 1930, a Palestina estava sendo colonizada pelos britânicos. O movimento sionista, com auxílio dos ingleses, se fortaleceu muito com uma migração grande de europeus judeus para a Palestina. Isso fez com que surgisse um movimento operário moderno, que rachou com a ala esquerda do sionismo. Assim se fundou o Partido Comunista da Palestina. Em 1926, eles realizaram um ato do Dia Internacional da Luta do Trabalhador. Um artigo do PCP sobre o 1º de maio explica muito bem as tendências naquele momento.
Ele começa dizendo que: “na Palestina, o 1º de maio tem sido comemorado há cerca de duas décadas. Mas nossos socialistas conseguiram privar este dia de seu conteúdo revolucionário proletário, convertendo-o em um dia pequeno-burguês comum. O 1º de maio se tornou uma tradição, ou seja, uma tradição pequeno-burguesa e nacionalista”. Se ele era comemorado havia 2 décadas, isso significa que era um dia tomado pelos sionistas. O PCP teria de travar uma luta para transforma-lo em um dia de luta.
O texto segue: “os trabalhadores árabes e a população árabe consideram este dia como um festival nacional judaico, enquanto a população judaica o vê como seu monopólio nacional. O Partido Comunista, desde o momento de sua fundação, tem lutado contra o caráter nacionalista-romântico do movimento operário na Palestina, e essa luta encontrou expressão na celebração do 1º de maio”. A segregação da sociedade palestina em relação aos imigrantes judeus já existia naquele momento e era uma das grandes questões com a qual o PCP tinha de lidar. Naquele momento, o partido era em sua maioria de europeus imigrantes.
Assim ele afirma: “O Partido Comunista enfrentou três tarefas em relação ao 1º de maio:
- Internacionalizar o feriado proletário;
- Revolucioná-lo e convertê-lo em um dia de propaganda e agitação revolucionária por meio de demonstrações de trabalhadores;
- Concretizar as palavras de revolucionários.
A luta por essas três tarefas elementares não foi de forma alguma fácil”.
Os ingleses usavam sua política de divisão das populações: “a demonstração do 1º de maio no ano de 1921 terminou em um pogrom sangrento que foi organizado pela polícia britânica e pelos Effendis [senhores de terra] árabes. Além disso, o Partido foi devastado como resultado de prisões e banimentos, e só conseguiu organizar no ano passado uma grande manifestação em Haifa na qual participaram trabalhadores árabes e judeus”. Ou seja, o PCP mesmo com dificuldades já começava a ter uma influência política organizando protestos na segunda mais importante cidade da Palestina.
E finalmente se chega ao ano em questão: “o 1º de maio de 1926 aparece como um verdadeiro ponto de virada na história do país. Pela primeira vez, o 1º de maio foi solenemente observado pelos trabalhadores árabes. Em Haifa, 250 trabalhadores árabes pararam o trabalho, enquanto nesse dia os trabalhadores judeus não trabalharam de forma alguma, pois era sábado. Em Jafa [hoje Telavive], Jerusalém, etc., ocorreram, além das reuniões dos trabalhadores judeus, reuniões de trabalhadores árabes nas quais foram proferidos discursos revolucionários sobre o 1º de maio, o imperialismo britânico, o comunismo, etc”.
O dia de sábado é equivalente ao domingo para os cristãos, o que dificulta a avaliar o quanto o 1º de maio foi impactante. Mas pelo relato fica claro que era muito valorizada a adesão da população trabalhadora nativa de palestinos. O PCP nesse momento ainda não tinha passado pelos expurgos stalinistas e estava em uma rota de ascensão.
A repressão britânica também atuava: “mas a polícia também mobilizou todas as suas forças nesse dia. Em Haifa, carros blindados com soldados britânicos percorreram as ruas. Jerusalém estava cheia de polícia montada e soldados. Em Jafa e Telavive, toda a reserva policial foi mobilizada, e além disso, a divisão de oficiais anglo-irlandeses foi chamada do campo britânico de Serchield. Em Haifa e Jerusalém, prisões e buscas domiciliares foram realizadas durante toda a semana que antecedeu o 1º de maio”.
E segue: “no 1º de maio, os bairros operários de Telavive, desde cedo, foram cercados, no sentido literal da palavra, pela polícia. Apesar disso, a polícia não conseguiu impedir que o Partido Comunista organizasse uma manifestação com a participação de grandes massas de trabalhadores. Os burocratas sindicalistas reformistas adentraram as fileiras dos manifestantes e ameaçaram os trabalhadores com demissão, mas sem resultado. Os trabalhadores marcharam sob bandeiras vermelhas com palavras de ordem comunistas. Houve violentos confrontos com a polícia, que teve que ser reforçada pela divisão de oficiais anglo-irlandeses, resultando em sete trabalhadores, entre eles três mulheres, sendo agredidos de tal forma que agora estão doentes com febre alta; mas alguns policiais também ficaram feridos”.
O movimento operário seria controlado por duas intervenções. Primeiro pela repressão dos ingleses que trabalhavam em conjunto com a ala esquerda dos sionistas, que procuravam influenciar o movimento operário. Segundo pelo stalinismo que decapitou o PCP a partir do fim da década de 1920. O partido, que poderia ter tido um grande crescimento e atuar na Revolução de 1936 com destaque, acabou perdendo cada vez mais a sua importância política.