
Por Solange Engelmann
Da Página do MST
Neste sábado (17), em todo o mundo se comemora o Dia Internacional contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia. A data é importante ao relembrar o papel central da luta contra a discriminação e violência contra pessoas LGBTQIAPN+ e fomentar o debate público sobre esse assunto.
Kelvin Nicolas, do Coletivo Nacional LGBTI+ e da direção estadual do MST SP, fala sobre o sentido dessa data para os/as/es sujeites Sem Terra e a necessidade de avançar.
Confira entrevista na íntegra:
Qual o significado do dia 17 de maio para a comunidade LGBT do MST?
A data foi escolhida devido a decisão histórica da Organização Mundial da Saúde (OMS) de remover a homossexualidade da Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID), em 1990. Esse foi um passo importante na luta pela despatologização da orientação sexual e da identidade de gênero construída a muitas mãos a partir da organização das comunidades, das populações LGBTs de todo o mundo e que se somaram por tempos e décadas nessa luta contra as várias formas de violências.

Pode comentar sobre quais as principais dificuldades e violências ainda enfrentadas pela população LGBTQIA+ no último período?
Historicamente, a população LGBTQIA+ tem sofrido e enfrentado no mundo inteiro diversas formas de violência sobre seus corpos, sobre seus territórios, sobre suas formas de estar no mundo e poder amar quem se ama. E nós estamos diante de uma conjuntura ainda encalacrada de incertezas, porque avanços significativos do ponto de vista da retomada da Secretaria Nacional LGBTQIA+, da retomada das políticas públicas para a população LGBTQIA+.
Mas também há um assombro da fome, uma sombra da pobreza, da violência que ainda paira sobre nossos territórios, sobre essa população que é marginalizada é cada vez mais incriminada, violentada, porque os lugares de acesso para tais políticas, mas também os lugares de socialização, de convívio e de construção de vida, possibilitam com que as violências sejam cada vez mais duras e de que quando não matam diretamente, tiram nossas formas de estar no mundo; porque tiram nossos direitos, nos tiram saúde, educação, casa, terra. E o que nos sobra são os escombros.
Quais os principais avanços do Coletivo LGBTI+ do MST em todo país?
Avançamos muito historicamente dentro da organização. Essa organização, especialmente ao Movimento dos Sem Terra, porque ela também é uma organização do seu tempo, da sua história, e ela também avança conforme a história e seus sujeitos que vão provocando, construindo outras formas de pensar, outras formas de ver as coisas, mas também outras formas de construir valores humanos e de relações humanas emancipadas.
Portanto, esse é um coletivo ainda recente na organização, com apenas sete anos de existência e mais com 15 nessa caminhada de conspiração e construção desde o primeiro seminário de 2015 sobre o MST e a diversidade sexual e de gênero, que aconteceu na Escola Nacional Florestan Fernandes. Embora seja um coletivo dentro dessa organização, ainda é pequeno, mas com grandes colaborações e reflexões para o conjunto, que já nos ajuda cotidianamente a dar passos no enfrentamento à violência no campo, às diversas formas de violência e no combate ao agronegócio e à sua forma de produzir comida que envenena nosso povo.
Mas é importante também na construção da Reforma Agrária Popular, ajuda a pensar quem são os sujeitos construtores dessa reforma agrária que queremos? De onde ela parte? A partir de quais relações humanas, sociais e políticas financeiras, mas também com uma participação política diversa e de humanidade.
Como o Coletivo LGBTI+ do MST vem atuando nos territórios?
Há um pouco tempo lançamos a campanha de combate LGBT mais fobia no campo. Essa é uma campanha permanente e tem como caráter combater cotidianamente e enfrentar as violências são só nos nossos territórios de acampamentos e assentamentos, mas nos nossos diversos territórios que estamos organizados, sejam nas escolas do campo, nas cooperativas, nas associações, buscando combater a violência na sua totalidade.
Mas combater violência também se faz com garantia de direitos. Então, ao passo que a gente garante direitos para a população, para os sujeitos do campo, a gente também emancipa esses sujeitos para que possam ter acesso a uma forma de vida melhor, com dignidade.
Como a campanha tem atuado para além disso?
Ela vem no sentido de fortalecer a base social nossa no enfrentamento, mas também de criar pontes de formação que sejam capazes de emancipar os sujeitos, e que esses sujeitos sejam construtores cada vez mais da sua história. E para nós isso tem um significado muito grande, porque o campo é esse lugar do enraizamento do machismo, do heterossexismo, da propriedade privada, de uma divisão sexual do trabalho, que é preciso combater permanentemente. Por isso, se colocar nesse nessa tarefa de combater as violências, não só ela contra os sujeitos LGBTQIA+, mas sejam elas em todas as esferas, sejam as violências contra qualquer ser humano, qualquer ser vivo, é uma tarefa do conjunto da nossa organização.
E qual a projeção da lutas do coletivo para o próximo período?
No Movimento a gente segue engrossando as fileiras de luta, as trincheiras da organização, para que a gente avance no tema, mas também avance no combate às violências. Possamos, então, juntos com outras organizações, camponesas e de outros movimentos LGBTQIA+ do campo popular, ir se fortalecendo e construindo ações combinadas que dêem resultados reais para a população LGBTQIA+ no Brasil.