Há 41 anos, em 1984, a cidade de São Paulo foi palco de um dos maiores atos da campanha Diretas Já, que reuniu centenas de milhares de pessoas na Praça da Sé, exigindo eleições diretas para presidente do Brasil. A mobilização, uma das mais expressivas contra a ditadura militar (1964-1985), marcou a luta popular por democracia em um momento de crise do regime.
O ato na capital paulista reuniu cerca de 300 mil pessoas, segundo estimativas da época publicadas pelo jornal Folha de S.Paulo. Lideranças políticas de diferentes espectros, como Ulysses Guimarães (PMDB), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Leonel Brizola (PDT) e Fernando Henrique Cardoso (PMDB), discursaram no palanque, atraindo trabalhadores, estudantes e setores da sociedade civil.
Iniciada em 1983,a campanha Diretas Já ganhou força com a mobilização operária e estudantil, que já haviam ferido o regime militar de morte desde as greves de 1978 no ABC Paulista. Em 1984, atos semelhantes ocorreram no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e outras capitais e grandes cidades brasileiras.
Enfraquecida pela crise econômica e pela pressão popular, a ditadura enfrentava dificuldades para conter o avanço das mobilizações. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, em 1984, a inflação atingiu 223,8%, agravando o descontentamento social. A proposta de emenda constitucional Dante de Oliveira (PMDB-MT), que restabeleceria as eleições diretas, estava em tramitação no Congresso, mas seria votada apenas em 25 de abril de 1984.
Apesar da força do ato, a campanha Diretas Já não alcançou seu objetivo imediato. A eleição de 1985, que escolheu Tancredo Neves (PMDB) como presidente, ainda foi indireta, realizada pelo Colégio Eleitoral. Neves, apoiado pela Aliança Democrática – uma coalizão entre o PMDB e dissidentes do PDS (antiga ARENA) –, representava os interesses da burguesia que buscava uma transição controlada. Após a morte de Neves, o ex-ARENA José Sarney assumiu, mantendo políticas repressivas contra os trabalhadores, como no caso da repressão à greve da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em 1988.
O ato de 16 de abril de 1984 foi gigantesco devido à efervescência pré-revolucionária que tomava o Brasil, impulsionada pela luta operária e estudantil. No entanto, o movimento foi uma manobra da direita para conter a radicalização da mobilização popular e preservar os interesses da burguesia e principalmente, do imperialismo.