Maria Stella de Azevedo Santos, mais conhecida como Mãe Stella de Oxóssi (1925-2018) — escritora, enfermeira e uma das maiores ialorixás do Brasil – completaria 100 anos de vida no próximo dia 2 de maio.

Iniciada no candomblé em 12 de setembro de 1939, aos 14 anos de vida, pela ialorixá Mãe Senhora, recebeu o nome de Ode Kaiodê, que significa ‘caçador traz alegria’. Aos 51 anos de idade, em 17 de junho de 1976, foi escolhida como a quinta ialorixá do Ilê Axé Opô Afonjá, para substituir Mãe Ondina de Oxalá (1916-1975).

Mãe Stella de Oxóssi foi uma grande defensora da cultura afro-brasileira e fez da literatura uma arma nessa batalha. Defendeu com veemência as tradições do Candomblé, preservou os ritos seculares e fez os seus leitores refletirem sobre a importância das religiões de matrizes africanas. Materializou as histórias orais, as vivências, os mitos e as lendas em textos, que a levaram a ser a primeira mãe de santo a se tornar imortal na Academia de Letras da Bahia (ALB).

Autora de livros que registram o saber ancestral das religiões de matrizes africanas, ocupou a cadeira de número 33 da ALB, cujo patrono é o poeta Castro Alves. Mãe Stella usa a literatura para lançar o brado contra o sincretismo, desvinculando de vez o Candomblé da Igreja Católica e afirmando-o como Religião.

Traçou críticas as tais “benesses” do sincretismo, quando os escravos tiveram que adorar santos católicos para driblar os senhores brancos-escravocratas da fé nos orixás africanos. A ialorixá defende em seus textos o quão isso historicamente está defasado. Ela sempre assumiu o candomblé de frente e escrevia artigos em defesa da importância do Candomblé para o legado da Bahia e do Brasil.

Sua estreia na literatura foi em 1988, com a publicação do livro E Daí Aconteceu o Encanto, em parceria com Cléo Martins, onde rememora as raízes do Opô Afonjá e de suas primeiras ialorixás. Em 1993, lançou Meu Tempo é Agora. O livro é uma espécie de manual para a formação de seus filhos-de-santo. A homenagem a Oxóssi, orixá para o qual foi iniciada, veio no livro Òsósi — O Caçador de Alegrias (2006).

Mãe Stella tinha profundo respeito pela tradição oral do candomblé, mas sempre defendeu o registro escrito, pois assim iria tornar duradouro seus ensinamentos. O ato de escrever era parte do compromisso que assumiu ao se tornar ialorixá em manter viva a história do seu povo: “A sabedoria ancestral do povo africano, que a mim foi transmitida pelos ‘meus mais velhos’ de maneira oral, não pode ser perdida, precisa ser registrada. Não me canso de repetir: o que não se registra o tempo leva. É por isso e para isso que escrevo. Compromisso continua sendo a palavra de ordem”, disse no discurso de posse na ALB em 12 de setembro de 2013.

Mãe Stella, a ialorixá das letras, seguirá viva entre nós pelas palavras escritas e faladas, pelos ensinamentos repassados, e por tudo que deixou construído dentro e fora do Ilê Axé Opô Afonjá. Tudo o que ela fazia era direcionado a colher frutos no futuro, sempre a favor dos seus filhos de casa e da rua, do povo pobre e negro da comunidade ao redor do Terreiro e para longe dele.

Seu legado não tem fronteira, não tem geografia que o encaixe em limites rabiscados em mapas.

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Last Update: 02/05/2025