Quem vive nas capitais brasileiras costuma perder, em média, cerca de duas horas por dia no trânsito para cumprir atividades rotineiras, como ir ao trabalho, levar os filhos à escola ou fazer compras. Ao longo de um ano, esse tempo equivale a aproximadamente 21 dias dedicados apenas aos deslocamentos, de acordo com a Pesquisa de Mobilidade Urbana 2022, realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em parceria com o SPC Brasil e o Sebrae.
Nos últimos anos, a possibilidade de trabalhar remotamente, impulsionada pela consolidação do home office após 2020, fez com que muitos profissionais passassem a repensar onde e como querem viver. A flexibilidade geográfica abriu espaço para que trabalhadores de diferentes setores deixassem os grandes centros urbanos em busca de cidades mais tranquilas, com custo de vida mais acessível e uma rotina mais equilibrada.
Para algumas pessoas, trocar o agito dos grandes centros urbanos por uma cidade do interior pode representar uma busca por mais qualidade de vida. A ideia de que o interior oferece um cotidiano mais leve e saudável atrai quem deseja fugir da correria urbana, mas será que essa mudança realmente se traduz em mais saúde? Hoje, com a expansão de redes de clínicas e serviços de saúde, é possível ter acesso a atendimento médico de qualidade mesmo em cidades menores, o que torna a decisão de se mudar ainda mais viável.
Menos estresse, mais bem-estar
Segundo Vagner Vinicius Morais de Araújo, profissional da área de psicologia do AmorSaúde, rede de clínicas parceiras do Cartão de TODOS, morar em cidades do interior pode contribuir significativamente para o bem-estar mental.
“Há evidências científicas que indicam que morar em áreas rurais ou menos urbanizadas pode, sim, beneficiar a saúde mental, especialmente por conta da menor exposição a estímulos sensoriais e estresse crônico característico dos grandes centros urbanos”, afirma.
O psicólogo explica que o chamado “estresse urbano” é causado por uma sobrecarga de estímulos como ruídos, luzes artificiais, poluição sonora e visual, aglomerações e tráfego intenso. Essa rotina exige atenção constante e pode levar à fadiga mental, distúrbios do sono e até sentimentos de solidão.
Já em cidades do interior, o ritmo pode ser mais previsível e tranquilo. “Isso proporciona uma maior sensação de controle sobre o cotidiano e pode favorecer uma regulação emocional mais estável”, acrescenta.
Respirar melhor, dormir melhor e viver com mais leveza
De acordo com Carlos Augusto Figueiredo Correia, médico da área de Clínica Médica do AmorSaúde, do ponto de vista clínico, os impactos positivos da vida interiorana também são perceptíveis na saúde física. “A menor exposição à poluição do ar e sonora está diretamente relacionada à redução de doenças respiratórias e cardiovasculares”, explica. Segundo o profissional, “viver em áreas com menor concentração de poluentes atmosféricos está associado a menor incidência e gravidade de doenças como asma, DPOC e infecções respiratórias”, completa o médico.
Além disso, a qualidade do sono costuma ser superior e o estilo de vida menos acelerado pode favorecer o controle de doenças crônicas. Segundo Carlos Augusto Figueiredo Correia, o tempo economizado com deslocamentos pode permitir investir em alimentação equilibrada, práticas físicas espontâneas, como caminhadas, e momentos de lazer com mais regularidade.
10 benefícios de morar no interior
Abaixo, os especialistas listam benefícios da vida em cidades do interior. Confira!
1. Menor exposição à poluição ambiental
A qualidade do ar tende a ser melhor em cidades do interior, com menor concentração de veículos e indústrias. Essa redução de poluentes atmosféricos, como material particulado e dióxido de nitrogênio, diminui o risco de doenças respiratórias como asma, bronquite e DPOC, além de reduzir a incidência de problemas cardiovasculares.
2. Ritmo de vida menos estressante
A rotina nas cidades do interior é, em geral, mais tranquila e previsível. Esse ritmo reduz a ativação constante do eixo do estresse (hipotálamo–hipófise–adrenal), favorecendo o controle de doenças como hipertensão, diabetes tipo 2 e distúrbios de ansiedade, além de melhorar o equilíbrio emocional.
3. Relações sociais mais próximas e estáveis
A convivência em cidades menores favorece vínculos mais duradouros, com maior senso de pertencimento e apoio mútuo. Esses laços sociais estão diretamente associados à prevenção de quadros depressivos, à redução do isolamento e ao fortalecimento da autoestima.
4. Maior contato com a natureza
A presença de áreas verdes, rios, trilhas e espaços ao ar livre proporciona efeitos terapêuticos comprovados. O contato frequente com ambientes naturais contribui para a redução do estresse, melhora a concentração, regula o humor e fortalece o sistema imunológico.

5. Qualidade do sono superior
Com menos ruídos, menos luz artificial e uma rotina menos acelerada, as cidades do interior favorecem um sono mais profundo e reparador. Dormir bem impacta diretamente o sistema imunológico, o metabolismo e a saúde emocional.
6. Maior tempo disponível para autocuidado
A redução no tempo de deslocamentos e compromissos excessivos libera espaço na agenda para práticas de autocuidado, como atividade física regular, preparação de refeições saudáveis, meditação ou momentos de lazer com qualidade.
7. Ambiente favorável à atividade física espontânea
A proximidade entre os pontos de uma cidade menor pode incentivar deslocamentos a pé ou de bicicleta. Caminhadas ao ar livre ou esportes em praças públicas são práticas comuns e acessíveis, contribuindo para a saúde cardiovascular e o bem-estar mental.
8. Alimentação mais natural e nutritiva
Em muitas cidades do interior, é comum o acesso a feiras locais e produtos frescos diretamente do produtor. Isso facilita uma alimentação com menos industrializados e maior variedade de frutas, hortaliças e alimentos minimamente processados, o que impacta positivamente o metabolismo, o sistema digestivo e a saúde geral.
9. Menor exposição a estímulos sensoriais excessivos
Longe do excesso de propagandas visuais, buzinas, aglomerações e iluminação intensa das metrópoles, o cérebro encontra um ambiente mais estável para processar estímulos com menos sobrecarga. Isso reduz a fadiga mental, melhora o foco e contribui para a regulação emocional.
10. Maior percepção de controle sobre a rotina
O estilo de vida menos frenético favorece uma organização mais equilibrada do tempo. Ter mais previsibilidade e autonomia sobre a agenda diária aumenta a sensação de controle e propósito, fatores que estão associados à redução da ansiedade e à melhora da saúde mental.
A mudança precisa ser cautelosa e permitir adaptação gradual
Apesar dos benefícios, nem todo mundo se adapta de forma imediata à vida do interior. Segundo o psicólogo Vagner Vinicius Morais de Araújo, isso depende do histórico de vida e das necessidades de estímulo de cada indivíduo. “Pessoas que buscam constantemente novidades, movimento e estímulos sensoriais intensos podem se sentir entediadas ou desmotivadas em ambientes mais tranquilos e repetitivos”, aponta.
O profissional acrescenta que quem tem uma rotina muito conectada à agitação dos grandes centros pode passar por um período de transição. “Alguns indivíduos relatam lentidão ou até queda no desempenho quando o ambiente se torna mais silencioso e previsível. Mas isso não significa que a adaptação seja impossível, apenas que pode levar tempo”, reforça.
O que considerar antes de mudar para o interior?
Ao planejar uma mudança de uma metrópole para uma cidade do interior, é importante pensar não somente nos ganhos de qualidade de vida, mas também em como manter uma rotina saudável e equilibrada nesse novo contexto. Confira algumas atitudes que ajudam na adaptação:
- Estabelecer uma rotina de sono, alimentação e atividades físicas;
- Buscar formas de manter estímulos cognitivos e criativos (leitura, cursos, hobbies);
- Criar vínculos sociais no novo ambiente, participando de grupos ou atividades da comunidade;
- Planejar momentos de lazer e convivência com familiares e amigos;
- Monitorar a saúde emocional durante o processo de adaptação;
- Aproveitar a mudança para revisar hábitos e prioridades.
Por Nayara Campos